PRÍNCIPES E PRINCESAS –

Lembro ainda da cena. Eu sentada no chão, com as mãos cobrindo os olhos. Mamãe perguntando se eu estava chorando. Não estava. Só tinha medo. Estávamos no cinema Rio Grande. Ele já não existe mais. Assistíamos a Branca de Neve e os Sete anões. Era a cena da Bruxa Má entregando a maçã envenenada para a Branca. Tive muito medo. Queria gritar para ela: “Não come! Vai te matar!”. Ela não me ouviria… Uma pena… Branca de Neve comeu a maçã envenenada. Os anões a julgam morta. Colocaram-na em uma redoma de vidro. Logo depois o Príncipe chegou, ofereceu um beijo de amor e… foram felizes para sempre. 

Como assim?

Foi o primeiro filme que assisti no cinema. Fiquei apaixonada pela Branca de Neve, pelos animais e pelos anões. E o Príncipe? Achei ele um bobão! Chegou após todo o sofrimento e a salvou com um beijo? Fala sério.

Depois veio a Cinderela. E novamente me encantei com os animais, a Cinderela e… O Príncipe não conseguia mesmo encontrar a dona do sapatinho de cristal? Fala sério – parte 2.

Que príncipes são esses? 

Enfim, chegou a Bela. Junto à ela, veio a Fera. Um Príncipe instruído, impetuoso, mas direto, honesto, participativo. Tornou-se minha história favorita. Neste período de pandemia assisti ao filme mais de dez vezes e, em todas, sofri com o Príncipe. Engraçado isso… Em meu mundo azul, onde vivo rodeada por homens, vejo-me questionando repetidamente o motivo para os noivos serem secundários nas decisões dos casamentos, assim como os príncipes são meros apêndices nos contos de fadas. Estou errada?

Não vivemos em um conto de fadas, não somos príncipes e princesas. Apesar de amar os filmes da Disney, gente do céu, que loucura os contos de fadas! Bruxas más, fadas madrinhas lentas e armadilhas para as princesas sempre aparecem. Como na vida real, apesar de terem diferentes nomes… O príncipe, normalmente, com exceção da Fera, só surge no finalzinho da história tentando resgatar todo um tempo perdido e uma princesa sofrida. E, enfim, logo aparece o “felizes para sempre”. Pronto! A chegada do Príncipe foi suficiente para finalizar o tormento e a felicidade chegar.

Engraçado isso… Esta dependência criada…

Amo A Bela e a Fera! Primeiro, acho invejável aquela biblioteca da Fera. Os livros clássicos estão ali e a Fera, que fofa! Já leu quase todos. Ela participa do enredo, tem seus medos e tormentos. E, o mais curioso para mim, depende da princesa, assim como a princesa se vê dependendo de seu príncipe… Eles têm uma relação construída pelo tempo, onde cada um vê as falhas do outro e aprende a conviver com isso, sem esperanças de causar mudanças…

Amo estes filmes. No entanto, não sigo a linha do “príncipes e princesas”, do “era uma vez” terminando com “foram felizes para sempre”. Não porque histórias felizes não existem, mas porque felizes para sempre faz parte de uma construção diária e isto… ah!, isto depende de cada um de nós! 

Engraçado que a pandemia nos jogou na cara também este aprendizado. O tão almejado “Felizes para sempre” precisa ser construído e reformulado a cada dia, a cada instante. Sem as músicas de fundo, sem as cantorias dos contos de fada, apenas aprendendo a ver o melhor em cada coisa que nos acontece. Diariamente. Constantemente. Incessantemente. Fazendo do hoje o sempre. E o sempre nos dando momentos felizes. Que queremos que durem para sempre…

 

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista e Professora universitária

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