Evaristo era um fazendeiro rico  do interior do Estado, conhecido pela avareza, com relação às pessoas pobres que lhe pediam ajuda. Além de “amarrado“, tratava mal aos empregados e a quem dele precisasse. Era incapaz de dar alguma recompensa a um portador que lhe levasse uma encomenda. Também, não gostava de presentear ninguém, usando como desculpa o esquecimento ou a falta de tempo. A esposa e as duas  filhas sofriam com isso, e tomavam a frente, na compra de qualquer presente. Essa sua avareza fazia com que os subalternos o detestassem. Quando o viam, cortavam caminho, evitando prestar-lhe qualquer serviço.

Um certo dia, na Semana Santa, um deputado seu amigo, e que lhe devia favores em campanhas eleitorais, mandou-lhe de presente uma enorme Meca, peixe conhecido no Nordeste como “Picanha do Mar”, e muito usado para churrasco. É um dos pratos principais, encontrados no excelente “Restaurante Solimar”, localizado na Barra do Cunhaú (Canguaretama-RN).

O portador do presente era um criado do político, que já tinha ido várias vezes à casa do fazendeiro, levando encomendas. Mas esse homem nunca lhe dera qualquer agrado.

O rapaz chegou de cara feia e mal olhou para o fazendeiro, destinatário da encomenda. Só Deus sabe a má vontade com que chegou ali, levando ao ombro o enorme peixe, devidamente embrulhado.  Visivelmente irritado, e sem cumprimentar o austero fazendeiro, o portador colocou o peixe no chão do terraço, e se limitou a dizer:

– Meu patrão mandou entregar esta encomenda ao senhor!

Contrariado com a forma nada simpática, com que o portador a ele se dirigiu, o fazendeiro o repreendeu, dizendo:

– Rapaz, você precisa apreender que não é assim que se faz entrega de um presente desse! Venha cá! Vou ensinar a você como é que a gente faz! Vamos imaginar que o dono da casa é você e eu sou o empregado que trouxe a encomenda. Sente aqui nesta cadeira! Eu entro com o presente na mão e, com muita delicadeza, digo:

– Bom dia, Senhor! O meu patrão, Deputado Aparício, mandou lhe entregar este presente, acompanhado dos votos de uma Feliz Páscoa, para o senhor e sua família! Espera que o senhor goste e com isso ele ficará muito feliz.

O criado aproveitou o momento para provocar o fazendeiro, na esperança de receber algum trocado. Sorriu e respondeu:

– Muito bem…Transmita ao seu patrão os meus agradecimentos, e receba esta recompensa, pelo trabalho que teve, em trazer até aqui este peixe tão pesado!

E o rapaz meteu a mão no bolso, com o gesto de quem vai tirar dinheiro.

Seu Evaristo não gostou da resposta. Ficou vermelho e confuso. Lembrou-se de que nunca tinha dado uma gorjeta àquele rapaz, ou a qualquer outro portador que lhe trouxesse uma encomenda. Quis lhe dar uma lição de boas maneiras, mas terminou recebendo uma lição ainda maior, de uma pessoa tão simples.

E não teve outro jeito. O avarento tirou algumas moedas do bolso e deu ao esperto criado, agradecendo-lhe por ter trazido o presente. Em seguida se despediu dele com muita amabilidade.

A partir de então, passou a dar sempre um agrado, a quem lhe trouxesse uma encomenda.

Violante Pimentel – Escritora

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