O QUE TORNA UM VINHO BOM? –

Essa talvez seja uma das perguntas mais comuns àqueles que se iniciam ou já estão envolvidos com o mundo do vinho, principalmente aos degustadores que, tal qual o vinho, evoluem à medida que o interesse pelo conhecimento vai crescendo em curiosidade e apreciação pelo produto final: o vinho disponível para o consumo.

São tantas as informações, são tantas as variedades, são tantas as classificações e pontuações, que certamente são capazes de produzir medo, ansiedade, dúvida e até aborrecimento por não ter facilmente uma forma de saber o que é um vinho bom.

Concordamos que não existe exclusividade e unanimidade em se determinar o melhor vinho, mas sim o vinho melhor elaborado, que o torna um bom vinho e que atenda ao gosto dos diferentes paladares.

Cada um dos apreciadores tem o que chamamos de papilas gustativas, que são pequenas saliências que se encontram na superfície da língua, que  enviam mensagens ao sistema nervoso central dizendo se as propriedades organolépticas daquele vinho se identificam com o seu gosto ou paladar. Em linguagem mais adequada poderíamos dizer: se aquele vinho “entrega” , ao seu gosto, tudo aquilo que ele promete.

Lembramos que as sensações que sentimos ao “provar” um vinho resultam dos milhares de compostos químicos presentes no vinho, advindos desde o cultivo (solo, amplitude térmica, manejo, colheita) à vinificação (fermentação, envelhecimento,filtragem, afinamento ), cujas características (olfativas e gustativas) são associações que fazemos comparativamente com aromas e sabores que estão nos arquivos da nossa memória.

Um determinado vinho pode ser agradável a você em um determinado momento e, amanhã ou tempos depois, não mais atrair o seu desejo ou a sua afinidade por ele. Isso porque nesta nova ocasião sua percepção pode ter mudado por questões outras, tais como o seu estado de ânimo, de saúde, de motivação e até por você ter tido experiências com outros tipos de vinhos que ampliaram a sua acuidade de degustação.

Então o que torna um vinho bom?

Escolhemos quatro pontos de análise para não complicar demasiadamente a “wine life” neste emaranhado de tipos e rótulos que desfilam em cada palco das lojas especializadas. São esses os pontos:

  1. O sabor característico ou sua tipicidade – Cada vinho tem um aroma e sabor típico que variam de acordo com todo o processo (do cultivo, do manejo, da elaboração, passagem por barricas). Associa-se também algumas notas que são características de cada uva utilizada.

  1. Complexidade – vinhos com aromas e sabores destacados vindo em parte da própria uva (origem e qualidade), do processo de vinificação acompanhado por enólogo experiente e inovador e pelos processos de envelhecimento (principalmente pelo tempo de “repouso” em garrafa).

  1. Equilíbrio – entre fruta/doçura e taninos/acidez, de modo que o vinho não seja tendencioso  evidenciando apenas um desses aspectos, tornando o vinho apenas muito frutado ou apenas com muito doce residual (tornando o vinho pouco agradável), com taninos salientes ou apenas acidez acentuada (tornando o vinho travoso, duro ou austero). O equilíbrio entre essas características tornam o vinho bem mais atraente ao paladar.

  1. Intensidade/persistência de sabores – na cor, indica uma tonalidade (pouca, média, alta) que expressa o corpo do vinho. No perfume, a amplitude de sensações aromáticas. No gosto, a permanência na boca (retrogosto). Mas em todos eles os sabores estão presentes e perfeitamente integrados ao todo.

Certamente não é da noite para dia que se constrói uma relação de afinidade com o vinho. Para ir aprimorando é necessário que você vá provando os seus rótulos e com a variação de aromas e sabores ir formando o seu olhar crítico e, naturalmente, selecionando aqueles que mais agradam ao seu jeito de ser.

Der atenção aos aromas, sabores e características que lhe encantam mais, a partir do momento de saborear o vinho na taça apropriada. Faça anotações, fotografe os rótulos, registre o seu momento e com quem está compartilhando. Assim você vai formando o seu acervo de atributos para escolher um bom rótulo de vinho.

Não torça o nariz para algumas das castas que ainda não são familiares. “Experimentar” é a palavra que toda a cadeia produtiva do vinho gosta mais de ouvir de seus admiradores. Isso porque somente com a experiência é que você adquire o seu próprio padrão de qualidade. Descobrir novos aromas e sabores levarão você a excelentes surpresas, muitas das vezes com castas desconhecidas e inusitadas ao cotidiano mundo dos vinhos.

Um brinde!

 

 

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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