HOJE NÃO TEM SELFIE? –

A palavra ‘selfie’ surgiu em 2002 num site – noticiário australiano – mas somente em 2012 seu uso se popularizou nos meios de comunicação social. Em 2013 foi escolhida como sendo a ‘palavra do ano’ conforme menção no Oxford English Dictionary.

Seu significado é simples e direto:  Fotografia que alguém tira de si mesmo.

-Hoje tem selfie?

-Tem não. “Ela cansou de se ver”.

Foi assim que escutei e, que me causou admiração, não pelo fato de ser, talvez, uma gozação com alguma amiga, mas por aquilo que poderia expressar.

Vejamos três citações que podem nos ajudar a entender o “Ela cansou de se ver”:

Quando os outros me cansam é porque estou cansado de mim mesmo”. (Jules Renard).

Eu já estou cansado de não gostar de mim”. (Cazuza).

“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”. (Mateus 11:28-30).

Com o tempo, caminhando na estrada da vida, aprendi que nem toda estalagem é acolhedora de ânimo e de incentivo a continuar, mesmo com o peso das decepções aderidas nas sandálias, a dar mais um passo no que ainda temos para chegar lá. Lá onde?

Aí está uma das menores perguntas que fazemos e que requer muito mais do que a resposta padrão: meta, objetivo, sonho.

O ponto de chegada do ser humano não é tão previsível assim, e não haverá holofotes iluminando e mostrando, com tanta clareza, o que realmente nos espera no final do caminho. Ademais não saberemos se é o final mesmo ou se ainda teremos algumas porteiras para abrir e, seguir por atalhos em busca de um novo fim.

Aqui me refiro à vida biológica, tal qual como a minha, compartilhada com a de tantos outros que seguem também seus caminhos. Às vezes a linha de largada é coincidente para alguns; porém, mesmo que a visão do que teremos a “percorrer” possa parecer igual, cada um haverá de conduzir as suas passadas, os seus pensamentos, as suas emoções e estratégias de modo todo particular.

Cada um também experimentará o cansaço de forma própria. O organismo reagirá aos pesos dos fardos conforme o seu estado espiritual e psicológico possa avaliar e achar o ponto de inflexão para a retomada do esforço do continuar.

Quando o percurso é longo e árduo, decerto encontraremos cansados e oprimidos, desistentes e arrependidos caídos pelas margens. Provavelmente entregues à sorte, aos lamentos, aos balbucios da inveja daqueles que seguem cadenciadamente. Talvez os que continuam com a caminhada estejam fazendo seus julgamentos precipitados sobre o “fracasso” daqueles que foram ultrapassados, tomados pela falta de uma força que só quem “parou” sabe qualificar.

Em nossa vida comunitária, muita das vezes, nos sentimos cansados da presença do outro, por pura falta de solidariedade espiritual.  Daí o pensamento do escritor francês Jules Renard (1864 – 1910), ao escrever: “Quando os outros me cansam é porque estou cansado de mim mesmo”, possivelmente entendeu a grandeza de sermos compreensivos e tolerantes com os que caminham conosco.

Cazuza, aparenta ter sido mais julgador e rigoroso a ponto de estar cansado de si mesmo. Será que ele não encontrou nenhuma estalagem restauradora? Só ele saberá responder.

Tenho observado que no caminho da vida existe uma pousada que oferece conforto, segurança e tranquilidade. Essa pousada nos acompanha, como que adivinhando cada momento em que será necessário parar e buscar guarida confiável e reanimadora. E mais: nela não existe porta de entrada e nem de saída, justamente por não ser seletiva. Porém, acima do vão tem uma tabuleta escrita com letras acolhedoras: “VINDE A MIM, TODOS OS QUE ESTAIS CANSADOS E OPRIMIDOS, E EU OS ALIVIAREI”.

Aproveite para fazer uma selfie com cada um que ali aporta e, depois, na calma do seu espírito, tente imaginar a história de cada um que posou para o clic, num sorriso vindo do coração ou aparentemente apenas dos lábios.

Talvez, na selfie, você perceba que captou a promessa escrita na tabuleta.

Portanto, não tenhamos medo de cansar no caminhar desta vida.

Sigamos firmes!

 

 

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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