JOSUÁ COSTA

Carlos Alberto Josuá Costa

“A quem não basta pouco, nada basta.” (Epicuro).

O crepúsculo do entardecer já abrira a porta para as primeiras estrelas, quando o saca-rolha dava as últimas voltas, extraindo do ‘Rouge 2010 Altitudes, ixsir, Libanês’ o aroma fresco de frutas negras e vermelhas com um toque de carvalho.

De terroirs do Líbano – esquecidos há algum tempo e agora recuperados e cultivados cuidadosamente, revela-se a riqueza e originalidade deste vinho. Sauvignon 35%, Caladoc 26%, Syrah 22% e Tempranillo 17% se combinam para deleitar os seguidores de Baco em devaneios e sem a preocupação do amanhã imediato.

O improviso do momento seguia uma determinação do acaso, pois ali, almas irmãs celebravam encontro de vida, amizade, respeito, esforço, vivência, dedicação, amor à família e realização, que somente Deus poderia precisar se haveria outra oportunidade.

A trilha sonora do espetáculo ‘Korvatunturi’ se repetia como que preparando o nosso espírito para dar àquele encontro, o sentido que naturalmente se estabeleceu: esvaziar-se!

Esvaziar-se pelo rebuscar de lembranças e sentimentos estimulados ao longo do tempo, reforçados sempre pelos exemplos de nossos pais, pautados na coerência entre o dizer e o fazer.

Conversa solta, entre um deguste e outro do tinto guardado exatamente para uma ocasião especial, ressoava como recordações livres de contornos modeladores. As palavras não seguiam um rito, mas norteavam as velas da liberdade que nos une como irmãos que torcem pela saúde, pela alegria e pela paz espiritual um do outro.

Meu sonho de ser piloto para cruzar os ares foi realizado com ele. Seu sonho de engenhar foi realizado comigo. Ambos cumprimos a missão de saber entender que o ser humano é capaz de dar o seu melhor para o conjunto das realizações confiadas por Deus.

As taças eram testemunhas e cúmplices de tudo que brotava de nossos corações: a com vinho, as lutas e as vitórias; a com água, a certeza que buscamos seguir o caminho do bem.

Claro que tivemos de nos desviar de trilhas tortuosas, que são comuns na trajetória daqueles que têm objetivos a cumprir. Muitas são as tentações para desvirtuamentos que se apresentam como “facilidades” que escondem falsas diretrizes, a fim de “perturbar” os que conhecem que a chegada ao topo se dá degrau por degrau.

De olho no nível vínico, íamos dosando a velocidade da prosa: Vai faltar vinho!

O ‘racionamento’ no degustar foi dando espaço para outros assuntos e o inevitável aconteceu: entramos no “volume morto”.

A essa altura, já estávamos esvaziados das coisas fúteis que amealhamos no caminho da vida e, tomados pela maturidade, nos enchemos de esperança num mundo mais tolerante para com nossos filhos e netos.

‘Esvaziar’ significa ‘tornar vazio’.  Precisamos desocupar nosso interior para sermos cheios da presença do Espírito de Deus em nossas vidas. Ser humilde de espírito é ser uma pessoa que se esvazia de si mesmo.

Quando ainda estamos cheios de nós mesmos, isto é do nosso ego, de vontade própria, de orgulho, de vaidade, de ira, de tristeza, de angústia, de críticas, lamentações, soberba, futilidades, mentiras, estamos distantes de tomar a nossa cruz e seguir sob a direção de quem verdadeiramente Se esvaziou para nos encher de vida.

Vida que se expressa através de cada atitude, de cada gesto, de cada palavra de incentivo, que nos enche diariamente de bondade, não deixando espaço para os sentimentos e os comportamentos derrotistas que tendem a nos tornar insensatos.

Todos os dias precisamos ter o compromisso de observar o nosso nível de tolerância, de firmeza de propósitos, esvaziando-se de todos os aspectos negativos que persistem em alguma área da nossa vida, sem nenhum remorso ou vergonha em clamar: “Enche-me, Senhor do Teu Santo Espírito”.

Esvaziar o nosso coração de tantos “eu” e enchê-lo de “nós” nos fará experimentar o quanto é bom compartilhar com outro o sorriso de Deus.

            Enquanto, apenas, nos envolvemos com disputas competitivas, onde o sucesso é buscado a qualquer custo, alimentamos mais atitudes egoístas do que altruístas.

Fiquemos atentos para que o individualismo não esteja presente em tudo: nos sonhos, nos relacionamentos, nos interesses, inclusive na fé.

A última gota do vinho foi compartilhada nas taças que coincidentemente ou propositalmente, se esvaziaram em solidariedade ao nosso encontro articulado por Deus.

Obrigado mano por transformar esse domingo de janeiro/2015 em um momento de gratidão por tudo que fomos agraciados.

Um brinde aos que partiram antes de nós, e àqueles que nos dão a beleza da convivência diária.

Um abraço, um até breve.

Deus está em todas as coisas boas da vida.

Esvazie-se de si mesmo!

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil e Consultor ([email protected])

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