Não se fazem mais trios como os de antigamente. Nada como aqueles conjuntos musicais compostos por primeira, segunda e terceira vozes masculinas. Três intérpretes tendo como instrumental básico o violão, o afoxé e o tantã, com o qual obtinham o acompanhamento necessário para a perfeita colocação dos timbres vocais.

Os primeiros trios musicais a gravarem discos no Brasil foram o Trio Aurora e o Trio Royal, ambos com formações instrumentais surgidos na década de 1910. Os vocais apareceram a partir de 1930, com o Trio de Ouro de Herivelto Martins, Dalva de Oliveira e Francisco Sena. A partir de então mais de uma centena de trios brilharam e desaparecem no cenário musical brasileiro.

O bolero se moldou como uma luva para o trio. Esse ritmo surgiu em Cuba mesclado de raízes espanholas, porém, ficou mais conhecido como a canção romântica mexicana. Toda a América Latina sofreu a influência do bolero e, no Brasil, ele se popularizou a partir da década de 50.

Daí a importância do Trio Los Panchos como um dos divulgadores da música romântica mexicana. O conjunto formado, originalmente, por dois mexicanos e um porto-riquenho foi sucesso no Brasil, influenciando os trios que aqui se formaram.

Nessa época ocorreu a melhor safra de trios musicais do país. Para aclarar a lembrança eis alguns deles: Surdina, Prelúdio, Melodia, Cristal, Nagô, Marayá e Irakitan, os dois últimos originários do Rio Grande do Norte.

Os trios Irakitan e Marayá foram formados, respectivamente, em 1950 e 1954. O Irakitan somente gravou o primeiro disco em 1955, com o título Três vozes que encantam. Canta e encanta há quase sete décadas, pois ainda está em atividade após várias mudanças na composição original do conjunto.

Gravou perto de uma centena de discos, a maioria deles com o selo da Odeon. No meu entendimento, o mais representativo trabalho do trio chama-se Os boleros que gostamos de cantar, de 1959.

O Trio Marayá, embalado no sucesso da formação vocal conterrânea, obteve também o seu espaço no gosto popular. Assim como o Irakitan, o Marayá se apresentou em diversos países da América do Sul e da Europa com sucesso. A partir de 1975 o conjunto foi-se desintegrando.

No Ceará surgiu o Trio Nagô, em 1950, porém, foi dentre os trios o de menor duração no cenário musical. Ao se desfazer, doze anos após a criação, o conjunto abriu espaço para o crescimento do Trio Irakitan. Na curta existência, o Trio Nagô também angariou fãs e prestígio nas apresentações pelo país e no exterior.

Um dos fundadores e o líder do Trio Nagô foi Evaldo Gouveia, conhecido e festejado compositor brasileiro. Ao sair do trio, em 1962, Evaldo engatou parceria com Jair Amorim que resultou em mais de 150 composições emprestadas às vozes dos principais intérpretes brasileiros – o sucesso de Altemar Dutra deve-se às composições da dupla.

Uma das mais belas interpretações do Trio Nagô embalou o sono de meus três filhos, durante muitas noites e em diferentes épocas, quando eles interrompiam o repouso de Edilza, minha mulher. Deliciem-se com a leveza da canção de ninar Sua Majestade, o Nenê.

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil e escritor – [email protected]

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