Meu pai, Antônio de Castro Bezerra (1989-1992), passou grande parte da sua vida ativa prestando serviço como militar da Polícia Estadual. Foram mais de quarenta anos.

Em casa, já curtindo a sua reserva não bem remunerada, baforando com prazer um gostoso fumo de rolo (o pé duro), só encontrado em feiras livres, com o seu velho, amado e inseparável cachimbo, relembrava com prazer para os filhos alguns episódios que marcaram sua vida de militar.

Contava que em uma das suas missões como delegado de interior, e foram muitas, foi abordado por uma senhora que se mostrava muito aflita, nervosa, transparecendo  muito medo, com certa palidez e voz trêmula, que dizia:

– Seu delegado, me acuda! Pelo amor de Deus!

– Tenha calma, minha senhora, pode falar!

– Doutor delegado, tem um homem lá no vilarejo querendo matar todo mundo; o homem é grandão e valentão, diz que não tem medo nem da polícia!

Vendo a aflição da humilde e aflita mulher, chamou o seu auxiliar de confiança e lhe  deu as instruções devidas:

– Vá até o vilarejo e veja se consegue conversar e amansar o temido e  agressivo valentão.

– Pois não, senhor delegado! Pode deixar comigo!

– Olhe, muita atenção, traga o homem sem exageros!

Algumas horas depois se depara o delegado, com espanto, diante de uma verdadeira procissão de curiosos, tendo à frente o seu auxiliar e, logo atrás, dois homens segurando um longo caibro de madeira e uma rede presa em suas extremidades. Aproximou-se e percebeu que se tratava de um corpo humano e volumoso.

Bastante assustado e temendo o pior, perguntou:

– O que aconteceu? O que é isso?

– Seu delegado, o homem era grande e valentão mesmo!

– Não deu pra trazer o homem andando. Só consegui trazer o valentão dormindo!

– Você matou o homem?

– Com a tranquilidade  de um  monge franciscano, respondeu:

– Foi o jeito, seu delegado; só fiz me defender!

Berilo de Castro – Médico, escritor, membro do IHGRN  – [email protected]

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