DE FILHOS PARA PAIS (E MÃES) –

Relacionamentos são complicados, difíceis mesmo. E o que dizer sobre as pessoas que nos conhecem antes mesmo de nós nascermos? Que sabem de cada escorregada de caráter que demos ao longo da vida? Como conviver, cara a cara, o criador e a criatura? Tato, respeito, paciência, perdão e amor. Essa é a fórmula.

Todos, sem exceção, se não somos (talvez ainda) pais, certamente somos filhos. Então, como proceder ao ver cada erro estampado naqueles olhos, geralmente tão amorosos?

O grande ponto é que os pais têm um conhecimento sobre seus filhos que nem eles mesmos têm. Vibraram com cada vitória, choraram cada derrota. Seguraram nossas mãos e nos empurraram para que pudéssemos voar sozinhos em algum momento de nossas vidas. Pais são sagrados, mas também podem ser difíceis, duros e, às vezes, assustadores.

Quando nos repreendem, mesmo que com vozes duras e intransigentes, se tivermos bons ouvidos, poderemos escutar por trás da dureza o amor e o cuidado. O medo que “suas criancinhas” caiam, machuquem-se.

Quando nos dão intensas lições de moral ao apontar as nossas quedas, a primeira reação dos filhos é sentir raiva, sobretudo porque sabemos que eles têm motivo, mas somos tolos e orgulhosos o suficiente para não lhes dar razão.

O amor, incalculável, de pais para com os filhos (mesmo quando não vem da forma com a qual esperávamos receber), faz com que todos nós percamos o bom senso por alguns momentos. O pavor de perdermos uns aos outros, de deixar esse amor ser sufocado pela insegurança, pelo (contraditoriamente) medo de não ser amado de volta, nos transforma em seres irracionais.

Quando cometemos nossas falhas e somos repreendidos por elas, ficamos com raiva. Raiva de nós, que desapontamos aquela criatura que tanto nos quer bem e sempre espera o melhor de nós e para nós, e raiva deles por notarem mais um deslize. Também nos sentiríamos magoados e insossos se eles (os pais) permanecessem inertes diante do nosso fracasso.

Pais são importantes demais para que os deixemos de lado em quaisquer que sejam os momentos de nossa trajetória. Eles devem saber o quanto são amados e necessitados, devemos deixá-los saber.

Eles precisam fazer parte da nossa história muito mais do que aquela clássica pergunta feita em uma terapia: “fale-me sobre seus pais”. Eles são a nossa gênese, o começo do que nós somos, a base de quem nós somos.

Esqueçamos as mágoas, o ranço, o medo. Lembremo-nos dos nossos primeiros e principais guias nesta jornada. Amemo-los e perdoemos a eles e nós, pois ninguém é perfeito, mas, diante da nossa imperfeição, tentamos acertar a cada passo.

Aos que são pais, aos que serão pais e, sobretudo, aos filhos, almejo o dia em que nos amaremos, tabula rasa, começando do zero uma nova consciência, uma grande história de amor!

Dedico esse amor à minha mãe e meus dois pais!

 

Ana Luíza Rabelo Spencer – Advogada – ([email protected])
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