CURSO PARA IDIOTAS (uma sátira) –

Matriculei-me! Estou gostando.

Fico pensando quanto tempo perdi querendo interpretar e refletir sobre o que lia e ouvia. Fazia de toda a informação uma fonte de fatos substancialmente coerentes e elucidativos. Bastava apenas me aprofundar no assunto e, pronto, tava embasado para as conversas e as discussões com os amigos e afins.

Também fui modificando o conceito “primo” que eu tinha sobre as atitudes e comportamentos da nossa sociedade, pela imposição, sutil ou nem tanto, de querer impor, intencional ou não, uma outra realidade para os acontecimentos que nos envolve neste mundo moderno, mas não evolutivo em proporcionalidade.

Ao tempo que se fala muito em ‘amor’, menos se pratica verdadeiramente. Em tanta ‘solidariedade’, menos compartilhamos. Em tanto ‘olhar’, menos enxergamos o outro. Em tanto ‘um só povo’, menos tolerantes com as diferenças. Em tanto um só ‘Deus’, mais deuses vamos criando e idolatrando. Em tanto a ‘justiça é cega’, mais os olhos se abrem para as anomalias. Em tanto ‘honestidade’, menos praticamos e mais cobramos dos outros. Em tantas ‘leis, normas e regulamentos’, mais somos propensos aos jeitinhos.

Tudo isso estou aprendendo no curso para idiotas. Com poucos meses, compreendi que ser idiota é mais simples. Não afeta o emocional, de tudo se acha graça, de tudo que se ouve é a “verdade” e, o mais legal, não precisa pensar. Já estou até convicto que esse negócio de ‘refletir’ é coisa do demônio.

Sim! Lá no curso temos o “recreio”. Brincamos de “faz de conta” ou de “faça o que digo mas não faça o que faço”. Também brincamos de “divulgue e veremos o que dizem”. Mas a brincadeira que mais gostamos é a de “denegrir a imagem do outro e depois emitir uma ‘nota’ de esclarecimento”.  Já ia esquecendo a brincadeira da “cabra-cega”: todo mundo tem um um ‘pano’ para tapar a visão daquele  que quer enxergar além do que é dito, do que é feito e da consequência que pode acarretar.

Lá também temos muitas fontes “confiáveis” de informações que nos abastecem a todo o momento de verdades (a minha) e de mentiras (a dele).

Mesmo assim estou pensando em sair do curso. Está ficando monótono. Quando penso que estou aprendendo a ser um bom idiota, surge um idiota sabido querendo me convencer que devemos criar uma organização que acabe com a idiotice coletiva. Se isso for feito, vão querer nos persuadir que poderemos viver com responsabilidade própria e ter a nossa independência pessoal.

Já pensou, eu ficar convicto que a verdade eterna e a fonte da felicidade dependem só de mim. E ainda, que procurá-las nas coisas externas posso não achá-las. Vai ser difícil retomar a autonomia da minha caminhada.

Serve não!

 

 

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])

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