O cuscuz de milho, iguaria que faz parte da mesa nordestina, inclusive, no café da manhã dos melhores hotéis, foi trazido para o Brasil, durante a colonização dos portugueses, no século XV.

Inicialmente, era uma comida destinada às famílias pobres e aos escravos.

A produção do fubá de milho era feita de forma artesanal. Depois que o milho secava, era debulhado e triturado no pilão, ou passado em moinho.

Apesar de existir cuscuz de mandioca, de arroz ou de macaxeira, o verdadeiro cuscuz brasileiro é feito com milho seco, moído ou pilado.

A fase artesanal da preparação do milho, para cuscuz e outras iguarias, foi substituída pela industrialização do produto. Inúmeras fábricas passaram a oferecer ao consumidor o milho já pronto, para os diversos usos.

Há décadas, quando ainda não havia cuscuzeira em Nova-Cruz (RN), o cuscuz cozinhava na boca da chaleira (RN). A massa do cuscuz era preparada e posta em um pires, modelada e coberta com um pano fino, dando-se um nó por baixo. No lugar da tampa da chaleira, era posto esse pires, emborcado, com a massa do cuscuz, para cozinhar. Não tinha “errada”. A água fervia e em quinze minutos, o cuscuz estava cheirando. Era o tempo de cozimento. Em seguida, era posto em um prato, retirando-se o pano que o cobria. Imediatamente, era molhado com leite de coco natural. Estava pronto um cuscuz bonito e saboroso.

Certo dia, Dona Lia recebeu uma moça do sítio, chamada Carmita, para trabalhar em serviços domésticos. A primeira providência foi ensiná-la a fazer o cuscuz, para o café da manhã. A moça disse que já sabia e que estava entendendo tudo muito bem. Mas não entendeu nada! Colocou a massa do cuscuz diretamente dentro da chaleira, pondo tudo a perder! Foi uma decepção, e Dona Lia ficou muito contrariada.

Com o tempo, Carmita aprendeu a fazer cuscuz, com perfeição.

Dona Lia esforçava-se para alfabetizar as empregadas que vinham do sítio, para trabalhar em sua casa. Comprava-lhes a Carta de ABC, cartilha, caderno, lápis e borracha, e separava um horário, à tarde, para lhes dar aula. Raramente, conseguia o seu intento. Está provado que a subnutrição prejudica o raciocínio e a inteligência.

Uma certa tarde, Dona Lia, tomando a lição de Carmita, pela décima vez, desiludiu-se completamente, e lembrou-se da cena do cuscuz! Todo o seu empenho em ensinar a moça a ler fora perdido. A página aberta da Cartilha mostrava uma bola, um dado e uma borboleta. Abaixo de cada desenho, estavam as sílabas correspondentes ao respectivo nome. Dona Lia tomava a lição da aluna:

– Carmita, leia:

B-O-BO, L-A LA?

– Bola. – a moça respondeu.

Empolgada, Dona Lia prosseguiu:

– Carmita, leia: D-A DA, D-O DO?

E Carmita respondeu:

– BOZÓ!!!

– Dona Lia se irritou e mostrou que o que estava escrito era “DADO”, apesar de ser sinônimo de BOZÓ.

E continuou:

– Carmita, e agora?

– B-O-R BOR, B-O BO, L-E LE, T-A TA?

E a moça respondeu:

– BRABULETA!

Com relação a Carmita, Dona Lia desistiu.

Desanimada, sem que a “aluna” ouvisse, resmungou:

– Essa moça é BURRA, COM QUATRO ERRES!!!

Violante Pimentel  –  Escritora

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