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NOBEL, BOB DYLAN, REVISTA POP E OUTRAS LEMBRANÇAS –

A surpresa universal pela concessão do Prêmio Nobel de Literatura a Bob Dylan, entre críticas e louvaminhas, teve o condão de arrastar-me a um etéreo baú de lembranças que há décadas não eram revisitadas. Tentei demarcar na memória o meu primeiro contato com o cantor/poeta/escritor que agora está em alta para aplausos ou apupos. Localizei-o nos anos setentas, em uma das edições iniciais da revista Geração Pop, mais conhecida pelo último nome do título, pois a logomarca que fascinava a minha faixa de adolescência era formada apenas por essas três letras, deixando a primeira palavra como um adereço vertical.

A Pop era uma publicação mensal da Editora Abril, de aparência contracultural, mas na verdade bastante conformada com o establishment. Tratava de música, cinema, educação, sexo, moda, artes plásticas e tudo mais que a garotada em transição entre a infância e a fase adulta adorava. No quesito musical a ênfase era para o rock, com feras do tipo Alice Cooper e Black Sabath (na área do som pesadão) e outros mais leves como Eric Clapton, Joe Cocker e… Bob Dylan, a estrela do auge!

Dylan era singular nesse universo. Já contava, à época, para além dos trinta anos e tinha uma imagem sorumbática, regularmente vestindo preto, cabelos encaracolados, óculos escuros e cigarro à mão ou à boca, com a fumaça compondo a moldura blasée, meio assim “tô nem aí”. A obra exalava poesia e estava afinada com as demandas políticas e libertárias de então. Nos anos que se seguiram estreitei contato com as canções do mito, sem fixação. Acodem-me aos ouvidos, sem esforço, versos de Blowin’in the wind, Mr. Tambourine Man, Hurricane, Lay Lady Lay e por aí vai… Recupero, emocionalmente, as grandes viagens que fiz com essa trilha sonora. Calma! As viagens que digo são as de vera, por estradas poeirentas, esburacadas, entrecortando Paraíba e Rio Grande do Norte, já que asfalto era artigo raro. Com o amigo Carlito Cândido, no seu fusca branco, cassete girando no toca-fitas TKR, ao máximo volume!

Forever Young! Que, por sinal, é outra boa canção de Dylan…

 

Ivan Lira de CarvalhoProfessor da UFRN e Juiz Federal

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