DIOGENES DA CUNHA LIMA

O UNIVERSO DE HÉLIO GALVÃO – 

A Academia vai comemorar, com Mesa Redonda composta por especialistas sobre o tema, o centenário do acadêmico Hélio Galvão. A mesa será presidida pelo sucessor da Cadeira 2, Ernani Rosado. Conversando com ele, manifestei a dúvida sobre o título para bem definir um homem múltiplo. Hélio foi historiador, etnólogo, cronista, professor (inclusive de latim) e poeta. Apesar de sempre afirmar que não nasceu poeta. Poetas nascem. Ernani sugeriu o título desta crônica. E assim será.

Profissionalmente, Hélio foi escrivão e advogado. Teve prática de Direito no escritório de advocacia de Djalma Marinho, datilografando centenas de habeas-corpus em favor de perseguidos políticos pós-revolução comunista de 1935. Exerceu plenamente a função de advogado, com inteligência, coragem, cultura, sagacidade extrema. Publicou 14 livros e é pai de 14 filhos, um deles, Dácio Galvão, é o atual Secretário de Cultura do Município de Natal. Entre os mais importantes livros publicados, encontram-se “História da Fortaleza da Barra do Rio Grande”, um estudo perfeito sobre o mais importante monumento do patrimônio histórico brasileiro, e “Cartas da Praia”.

Teve dois líderes amigos: José Augusto Bezerra de Medeiros e Aluízio Alves. Com Aluízio fundou e dirigiu a Fundação José Augusto, fornecendo as bases para o favorecimento da cultura no Estado. No seu discurso de posse na ANRL, disse ser “um enamorado de minha gente e da minha terra, amando com muito amor esses costumes e essas tradições, essa paisagem agrestemente doce”. Já Marcelo Alves lembra a sua vinculação ao mar, em razão da origem, nascido em Tibau do Sul, com a fortaleza e a “Cartas da Praia”.

Tive o privilégio de conviver com Hélio Galvão e participar como advogado, no polo contrário, e também muito próximo a parcerias. Fui advogado do governador Cortez Pereira e dos diretores Hélio e João Medeiros Filho. Dr. Hélio surpreendeu ao dizer que o processo era apenas “um zumbi”, ou seja, uma criatura assustadora e inventada, sem motivo para medo, sem importância no mundo real. Utilizei com sua licença, a expressão na defesa de Cortez.

Ele e Veríssimo de Melo escreveram para o admirável e admirado “Dicionário do Folclore Brasileiro”, de Câmara Cascudo. Veríssimo sobre adivinhas e Hélio sobre mutirão. Nesse fato, uma mostra do gigantesco erudito e no campo pesquisador que era Hélio: “o mutirão compreende determinados trabalhos: broca de roçados, capina de plantações, cava de leirões, reparos em paredões de açudes, cobertura de casas de palha, transporte de madeira pesada, canoas, etc. O mutirão é uma instituição social que atenua, corrigindo-os, os efeitos individualistas que a economia latifundiária imprimiu à vida rural brasileira. ”

Hélio, ao ingressar na Academia, provou que era seu credo de fé. Ele, o grande religioso, disse: “firmemente creio nas realizações da inteligência”. O que era o credo de fé de Hélio? Se está referindo-se “a Academia”, deve ser colocado assim: … provou que esta era seu credo de fé.

Diogenes da Cunha Lima – Escritor, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN

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