AMIGOS DE MEU PAI, MEUS AMIGOS –

 Neste artigo, falo em amizades construídas desde os tempos de meu pai ou meu avô. Lembrando essas pessoas, resolvi escrever sobre elas. Foram pessoas que viveram intensamente Natal.

 Embora de outra geração, faziam parte do meu convívio. Eram alegres, prestativos e o mais importante, meus amigos, tinham também histórias alegres que curtimos juntos.

José Leandro era comerciante na Ribeira, proprietário do Armazém de Madeiras Santa Tereza que ficava atrás do Teatro Alberto Maranhão.  Casado com dona Miriam Raposo, Leandro era pai de Tereza, Zaíra, Lourdinha e Miguel. Morava na Rua Mipibú em frente à antiga Escola de. Engenharia até 1971, quando se mudou para a Rua Capitão Abdon Nunes onde até hoje mora sua viúva. Era baixo, gordo e uma pessoa muito alegre. Como todo homem sábio, gostava de uma cervejinha nas horas vagas e de abrir as portas de sua casa para receber amigos.

Pois bem, a casa da diocese era onde morava o bispo, na época, Dom Nivaldo Monte, que todos nós conhecemos pela sua sabedoria e bondade, era vizinha a Escola de Engenharia e defronte a casa de José Leandro que a nossa turma chamava carinhosamente amigo Leandro. Aos sábados tinha aula até as dez horas da manhã. Na saída íamos pedir lanche na casa do Bispo e depois ficavam uns dez sentados em cima do muro. Quando o amigo Leandro chegava à turma gritava.

– Amigo Leandro uma ceverjinha

O amigo Leandro fazia sinal para esperar, ajeitava o jardim, colocava as cadeiras no terraço e ia tentar convencer Dona Miriam, que não concordava muito com a idéia, mas terminava aceitando. Então o amigo Leandro dava o sinal chamando a turma, que passava à tarde do sábado na maior alegria, dando um trabalho enorme a Dona Miriam.

Adamor da Costa Santos, viajante de medicamentos, pai da amiga Hilneth Correia, era um senhor muito alegre. Acompanhava samba com caixa de fósforos com bastante maestria.

 Um dia de sábado, saímos do bar A Palhoça na Av. Deodoro em um Aero Willys batido, caindo aos pedaços, para irmos à Confeitaria Atheneu. Pegamos a Rua Mossoró e na quase esquina com a Floriano vimos algumas moças sentadas no muro. Resolvemos parar e cantar algumas músicas ao som do violão de Jovelino Marques. Nisso sai um senhor, baixinho, tio das moças e vai logo gritando.

-Entrem, vocês ouvindo play boys, cachaceiros, embriagados uma hora desta. Era mais ou menos dezoito horas, Adamor não havia reconhecido a gente e zelando pelas sobrinhas, claro. Aí as meninas começaram a entrar. Para não ficar de crista baixa, falei para a turma.

– Esse senhor se chama Adamor é candidato a vereador, eu vou gritar: Adamor nosso vereador, você no violão e a turma no coro, respondem:

– Já ganhou, já ganhou já ganhoooooouuuuuuuuuu.

Assim foi feito, antes de terminarmos, Adamor que era pequenininho, deu um pulinho rápido para traz e gritou:

– Opa turma, fazendo sua brincadeirinha dia de sábado, já fiz muito isto quando era jovem, adoro a juventude, entrem e vamos tomar umas comigo. (Convite imediatamente aceito.).

Odemar Guilherme Caldas, quem naquela época (anos 60) não conhecia seu Odemar gerente do Cine Rio Grande? Homem calmo, trabalhador e bom amigo.

Todos os sábados íamos para o bar A Palhoça vizinho ao Cine Rio Grande, para tomarmos a nossa cerveja. Como todo mundo era estudante, portanto liso, tínhamos que pedir dinheiro aos velhos para custear as despesas. E assim era feito.  Certa ocasião, Júnior filho de seu Odemar vai pedir o “cacau” alegando ser o aniversário de Sadock Albuquerque. No outro sábado, chegamos lá novamente, eu, Sadock e Junior. Indo falar com seu Odemar, Junior repetiu a mesma história do sábado passado. Seu Odemar olhou para ele, coçou a cabeça, limpou os óculos e disse:

– Essa não meu filho, que seus amigos só aniversarie dia de sábado eu até admito, mas duas vezes por ano, essa eu não aguento. Essa não meu filho!

Mas, mesmo contrariado deu o “cacau”. O “essa não meu filho” ecoou na Escola de Engenharia durante todo nosso curso.

 

 

Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN

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