VIRAMUNDO 70 –
Ela andava na rua exibindo aqueles seios enormes, firmes, lindos a tremular debaixo da blusa fina, de algodão realçando o sutiã quase transparente.
Dona Severina gostava de excitar as pessoas por onde passava para ir trabalhar na lavanderia do seu tio Anastácio que morria de ciúmes da sobrinha.
De casa pra lavanderia era perto. Uns cinco quarteirões. Não aceitava carona, mesmo de conhecidos.
– Por que Severina você não pega carona?
– Não confio nesse homens.
– Mas se for mulher você aceita?
– Também não. Tem mulher que fica olhando pros meus peito com cara de tarada. Vots, eu tenho é medo.
Ela sabia ser sensual. Caminhava olhando pro chão e raramente falava com as pessoas.
Na lavanderia era recepcionista cheia de simpatia com um sorriso mostrando os dentes bem certinhos na boca de lábios carnudos.
Severina era desejada até por mulheres.
– Severina esse nome não combina com você.
– E que nome combina?
– Shirley
– E. Vou adotar esse nome daqui pra frente.
Tio Anastácio também gostou.
Ele gostava da sobrinha e uma vez, brincando disse.
– Se você não fosse minha sobrinha ia paquerar você.
– Vige tio. Que é isso?
– Verdade. Eu me controlo muito pra resistir.
Shirley não tinha namorado até que um dia o prefeito da cidade mandou um recado pra ela ir a Prefeitura numa quarta-feira, de manhã, 10 horas.
– Shirley, sou um homem sozinho e venho observando você há muito tempo é sei que você não tem namorado.
– Sei. E daí?
– Estou interessado em você
– Meu Deus. Eu nem conheço o senhor, direito.
– Não tem problema. Vamos sair pra jantar e a gente conversa melhor.
– Vou pensar.
Demorou mais de um mês Shirley “pensando” na proposta.
Foi falar com o tio Anastácio.
– Mas ele é mais velho do que você. Não vai dar certo.
– Vou aceitar o convite pra jantar. Ele parece ser gente boa.
Esse jantar foi em Goianinha, numa churrascaria bonita, modesta e bem frequentada.
O prefeito, educado, muito conhecido.
– Olá seu Carlos Antônio, o senhor por aqui.
– Essa e minha noiva, a Shirley
Voltaram cerca de 10 da noite e o Prefeito Cacá deu um ligeiro beijo no rosto, quase tocando nos lábios dela.
– Como foi o jantar?
– Foi legal titio. Ele é muito educado e me apresentava as pessoas como sua noiva
– E você gostou?
– Sim. Achei muito interessante.
Numa viagem que fizeram a Brasília onde Cacá ia participar de um Congresso resolveram ir a Caldas Novas em Goiás.
Passaram um delicioso fim de semana namorando naquelas águas quentes.
Um mês e meio depois Shirley falou pra Cacá que estava grávida.
– Então vamos casar.
– Precisa não. Dá tempo de fazer aborto e a gente fica só namorando.
– De jeito nenhum. Sou espírita e contra o aborto. Nada acontece por acaso.
– É.
Nasceu Joventina, a cara da mãe
Cacá e Shirley foram morar na casa que o Prefeito comprou, perto do sítio da família, em Boqueirão das Neves.
Cacá se reelegeu e tiveram mais dois filhos.
Shirley montou uma bem estruturada lavanderia para atender hotéis e restaurantes. Tinha clientes até de cidades vizinhas.
Cacá adorou a ideia da mulher e numa viagem a Recife comprou um equipamento moderno para embalar roupas de hospitais.
Joventina ficou tomando conta da recepção enquanto seus dois irmãos foram estudar em Recife.
Família feliz e Cacá se elegeu Deputado Estadual e vieram morar em Natal na maravilhosa avenida Getúlio Vargas, numa cobertura de frente pro mar.
Encontrei os dois jantando com casal amigo no Camarões do Midway e perguntei:
– Shirley em quem você se inspirou na sua vida?
– Sophia Loren.
Jaécio Carlos – Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube.
