VAIDADE ALOPRADA –
O que mais me impressiona nas operações de “busca e apreensão” encetadas pela Polícia Federal em residências de suspeitos de praticarem delitos diversos são as variedades de bens confiscados.
Carros de luxo, esculturas valiosas, coleções de joias e relógios, pinturas de artistas famosos, adegas com vinhos raros, objetos que o cidadão comum sequer tem a petulância de tentar sonhar possuir.
Em uma das últimas apreensões da PF constataram a existência de coleções de motocicletas, relógios valiosíssimos, carros de marcas famosas e caras, incluindo entre eles uma máquina da escuderia de Fórmula 1, MacLaren, que havia pertencido ao piloto brasileiro Airton Senna.
Quais as razões que levam tais indivíduos adquirirem tantos bens caros e valiosos sem que os possam ostentar publicamente, pelo fato de levantar suspeitas acerca de suas origens? O que pensam eles ao montarem adegas com milhares de garrafas de vinhos caros se, jamais e em tempo algum, consumirão o acervo acumulado?
Um fato relevante sobre adegas: “Consta que na II Guerra Mundial, soldados americanos ao tomarem o ‘Ninho da Águia’, reduto de Hitler nos Alpes Bávaros, Alemanha, encontraram adega com mais de 500 mil garrafas de vinhos franceses raros. Eles beberam todo o estoque, mas tiveram o cuidado de repor os vasilhames vazios no local onde eles envelheciam.”
Retornando ao assunto em tela. Para evitar angariar suspeitas certamente os suspeitos não sairão dirigindo uma MacLaren pelas ruas de São Paulo; não trocarão de motocicletas a toda hora; não ostentarão todas as joias em reuniões sociais; e, tampouco, tomarão o volume de vinho estocado enquanto vida tiverem.
Tudo isso é motivado pela vaidade aloprada e doentia de possuir tais tesouros. É provável que eles ponham os relógios nos pulsos e, sozinhos, aboletados num belo carro, com uma taça de vinho na mão, sorrindo para um espelho, exclamem para si mesmos: São poucas as pessoas no mundo que podem ostentar tais maravilhas!
Outro brinquedo com que os larápios do erário público gostam de se pavonear são as lanchas de luxo. Trata-se de um dos primeiros itens adquiridos pelos novos ricos. A prática se tornou tão comum entre tais personagens que um deles, quando procurado por agentes da polícia, tentou fugir no iate onde se deleitava.
Não existem mais ladrões como antigamente. Aqueles tradicionais e puros de origem, que pulavam os muros das casas para roubar galinhas caipiras, enquanto os mais perigosos arrebatavam bolsas das mulheres, enquanto elas se deleitavam admirando as vitrines das lojas. Contravenção inaceitável consistia em arrombar automóveis.
Tudo isso seria pinto – gíria de antigamente – ante os métodos sofisticados de agora. Na modernidade eles não precisam sujar as mãos no esterco porque agem asséptica e sofisticadamente, para obterem lucros estratosféricos.
Porém, nada supera em extravagância e falta de senso de ridículo, mostrada na fotografia de um ex-deputado estadual do Rio de Janeiro, preso por suspeita de envolvimento com o Comando Vermelho, deitado e aparentemente adormecido em uma cama ao lado de centenas de pilhas de notas valorizados do Real.
São esses os destaques jornalísticos que, na atualidade, invadem as manchetes do nosso querido Brasil varonil.
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil
