UMA PAUSA –
Em um raro momento de solidão, dou-me ao luxo de compartilhar comigo mesma minha companhia e me convido para sentar tranquila, sem olhar o relógio e conversarmos eu e eu mesma sobre amenidades.
Enquanto bebo meu chá mate vejo um casal de idade passando diante da cafeteria. Estão sorrindo. Ela empurra lentamente a cadeira de rodas dele. Ela encontra uma mesa e o acomoda gentilmente. Chama o garçom e, sem pestanejar, faz o pedido para os dois. Ele sorri. Então, param de se olhar e encaram o movimento do shopping como se fosse um grande vazio. Talvez seja isso mesmo para eles. Para mim, às vezes é. Às vezes vejo um entra e sai de gente que não me diz nada, enquanto estou perdida em pensamentos tão meus.
Volto minha atenção para o celular. Não era este o combinado comigo mesma! Era esquecer o mundo exterior, esquecer as notificações, fazer uma pausa do trabalho. Então, meio exasperada comigo, pelo rabinho do olho, vejo um movimento na mesa deles. Esqueço de mim… Chegou um amigo! Conversam os três animadamente. Penso no que aquele amigo pode significar para eles. Qual a proximidade. Se ele – o amigo – compartilhou as dificuldades que eles – o casal – passaram.
Todos passamos por momentos difíceis, mas felizes somos quando não enfrentamos tudo sozinhos. Esqueço um pouco deles. Esqueço um pouco de mim. Penso nas mil coisas que ainda devo fazer hoje. Respiro, guardando o celular num canto escondido da bolsa. Fico angustiada com a possibilidade de precisarem falar comigo. Que bobagem! Mais uma respiração profunda.
Assim, dou-me ao luxo de parar, escutar meu silêncio, beber vagarosamente meu chá e olhar mais uma vez para o casal ao lado. Sem celulares nas mãos. Sem abrir o cardápio. Conversando com o amigo. Sem pressa de viver.
Como me ensinaram…
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, Professora universitária e Escritora
