Donald Trump completou ontem 100 dias na presidência dos Estados Unidos, um período já marcado por atitudes polêmicas e baixos índices de popularidade. Para especialistas, o governo Trump já está sofrendo o choque de realidade, porque as instituições construídas ao longo da história dos Estados Unidos funcionam como freios à vontade de qualquer governante. Depois que venceu as eleições à Casa Branca, em 8 de novembro de 2016, Trump elegeu a imprensa como adversária e também prometeu mudanças drásticas na política externa do país. Como uma reaproximação com a Rússia, uma renegociação comercial com a China, uma forte oposição aos acordos climáticos e uma política imigratória restritiva.

Logo no inicio, ele pôs em prática uma de suas principais bandeiras, ao proibir a entrada de cidadãos de sete países islâmicos aos Estados Unidos. Na ocasião, o decreto motivou diversos protestos no país e no mundo. A Justiça rapidamente suspendeu a medida. Nessa delicada área, Trump não alcançou seu objetivo. No entanto, o republicano ainda chegou a definir regras mais rígidas para imigrantes irregulares e deliberou mais poder aos agentes migratórios para deportações. Mas uma de suas principais promessas, a de construir um muro na fronteira com o México, continua num impasse.

Desde que Trump tomou posse, diversas empresas reviram seus planos de construir novas fábricas no exterior e anunciaram investimentos nos Estados Unidos e isso conta a seu favor. Mas o novo governo falhou ao tentar cumprir outra de suas promessas mais agradáveis aos ultraconservadores de sua aliança política: decretar o fim do “Obamacare”, uma espécie de sistema público de saúde implantado pelo governo do democrata Barack Obama. O chamado “Trumpcare”, para reformar o sistema, não avançou no Congresso, embora os republicanos sejam a maioria nas duas câmaras do Capitólio.

Em nome do crescimento econômico, o sucessor de Obama desfez políticas ambientais que entraram em vigor na gestão passada, o que faz o país descumprir o acordo sobre mudanças climáticas firmado em Paris. Para ele, o aquecimento global não passa de uma farsa. Na política externa, Trump ensaiou uma aproximação com a Rússia e foi alvo de uma investigação do FBI sobre uma possível interferência do país nas eleições norte-americanas do ano passado para favorecê-lo. A invasão hacker teria sido a responsável pela derrota da democrata Hillary Clinton após o vazamento de seus e-mails privados.

Apesar da suposta parceria com o presidente russo, Vladimir Putin, o mandatário norte-americano decidiu atacar uma base na Síria, aliada da Rússia, como resposta a um ataque químico que matou mais de 70 pessoas. No Oriente Médio, ele aproximou Washington ainda mais de Israel, que declarou apoio ao ataque à Síria. Por sua vez, Trump iniciou oficialmente uma discussão sobre a renegociação do maior acordo comercial, o Nafta, entre os Estados Unidos, Canadá e México, após apelo dos dois países. Com a China, as relações também oscilaram com críticas à omissão de Pequim em relação ao cada vez maior poder bélico da Coreia do Norte. No último mês, o chefe de Estado começou a enfrentar o seu maior desafio como líder da maior potência mundial: conter os planos nucleares dos norte-coreanos.

O fato é que o governo Trump está enfrentando um cenário mais complexo que os trabalhados durante a campanha eleitoral. Ele completa 100 dias de governo como o mandatário mais impopular do país em quatro décadas, com apenas 30% de aprovação, segundo pesquisas. No entanto, o republicano insiste em avaliar sua política com extremo otimismo. “Acho que nunca vimos nada igual, acredito que ninguém fez o que fomos capazes de fazer em 100 dias”, afirmou ele.

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