Eu não disse? Começou o extermínio da juventude de Macaíba. Continua aceso o estopim da droga e ele já se expande e se torna crescente a cada mês. O alvo predileto são os jovens infelizes que se envolvem no tráfico por falta de uma estrutura idônea de educação, de saúde e segurança. Não existem nesse território de espanto e sofrimento, ações à nível estadual e municipal unificadas de combate eficaz contra o tráfico e de policiamento ostensivo nas ruas, bairros e distritos. A situação é tão grave e delicada nas periferias e bolsões da cidade, que menores são treinados e formados para o crime comum obsessivamente organizados como se fosse uma guerra civil. Está provado que a polícia continua despreparada para combater e a justiça desarmada para punir, pois a legislação penal é débil e ultrapassada.
Sair à noite em Macaíba é uma temeridade. Aliás, em qualquer parte do Rio Grande do Norte e do país. O lamento maior é constatar que a nossa terra, que antes era da cultura, do comércio e da paz hoje é a quinta no Estado na estatística de homicídios. O nosso tempo que era de grandiosidades, hoje é de tragédias. A vida humana se tornou fuleira. Criança, idoso, jovem, mulher – para o transviado, o drogado – tudo virou carniça. Mas, à luz do dia, os assassinatos também se tornaram rotina e boletins de ocorrências em ondas médias e curtas das emissoras de rádio além das telas de tv’s. O macaibense está perdendo a sua auto-estima. Vive-se sob o signo do medo. Por que os órgãos de inteligência e investigação das policias não descobrem de onde vem, por onde entra a droga e se sabem por que não agem?
Ações criminais que agridem a vida, como o terrorismo, o tráfico de drogas, o crime organizado, devem ser prioridade em qualquer gestão pública, tal qual, a educação, a saúde, a segurança, o desemprego, o transporte publico, etc. A gente tem a impressão que tudo vai acabar pelo falecimento paulatino predador de vidas e putativo dos valores humanos negados e omitidos. Se se pensar que a solução dos crimes hediondos da droga e de outras etiologias virá da classe política ou partidária, tal expectativa não pode ser confiável porque o dinheiro muda tudo. Viver hoje em Macaíba é extremamente perigoso e não existe ninguém confiável. O município envileceu. Tudo caminha no diapasão do salve-se quem puder! A classe privilegiada é a rica e comissionada. O pobre que se lasque e morra nas ruas do obituário das omissões. As minhas reflexões sobre o tema nasceram de um desejo e, porque não dizer de um sonho macaibense de humanizar o horror do mundo, que perdeu o canto e o encanto de viver com medo de atravessar as ruas. Creio que providências concretas ainda podem vir, mesmo que não possam enxugar o pranto das famílias dos adolescentes que já se foram. Acredito na frase de Fernando Pessoa, escritor português e espírito superior de que: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”. Ou, do contrário, Deus salve Macaíba!
Valério Mesquita – Escritor e presidente do IHGRN – [email protected]
