Em sua primeira entrevista à televisão brasileira desde o início da Operação Lava Jato, em março de 2014, que realizada ontem à noite no programa Roda Viva, da TV Cultura, o juiz federal Sergio Moro defendeu a importância da prisão após condenação em segunda instância judicial. O magistrado, assim como os demais integrantes da força-tarefa da Lava Jato, tem insistido que o Supremo Tribunal Federal (STF) não reveja sua atual posição sobre o tema. “Eu tenho expectativa de que esse precedente não vai ser alterado” disse ele. Moro afirmou que “Isso na prática é impunidade e, de uma maneira bastante simples, essa generosidade de recursos consegue ser muito bem explorada por criminosos”.
Ainda sobre o ex-presidente Lula, Moro defendeu sua atuação no episódio da divulgação de áudios dos grampos contra o petista. O magistrado levou um puxão de orelha do então relator da Lava Jato no STF, ministro Teori Zavascki, ao divulgar os áudios em que a então presidente Dilma Rousseff (PT) aparecia combinando uma “posse secreta” a Lula como ministro da Casa Civil em uma tentativa de garantir ao ex-presidente a prerrogativa de foro. “Nunca entendi que eu errei naquele episódio”, disse Moro. “Aquele conteúdo não dizia respeito à vida privada”, argumentou o magistrado.
O juiz federal Sergio Moro mandou um recado sutil à ministra do STF Rosa Weber, cujo voto é considerado crucial na decisão sobre conceder ou não habeas corpus ao ex-presidente Lula, em sessão marcada para o dia 4 de abril. Ao citar a qualidade dos ministros do Supremo, ele mencionou dois: o decano, Celso de Mello, e Weber, a quem fez fartos elogios. “Tenho apreço especial pela ministra Rosa Weber, com quem trabalhei. Pude observar a seriedade da ministra, a qualidade técnica da ministra”, disse Moro, que foi auxiliar dela no caso do mensalão. “Tenho expectativa de que esse precedente não vai ser alterado”, declarou, em referência à decisão de 2016 da corte, que autorizou a prisão após condenação em segunda instância, caso de Lula.
Confrontado com o fato de receber auxílio-moradia, mesmo tendo imóvel próprio em Curitiba, Moro disse não falar pelos juízes, mas defendeu que o benefício seja usado para compensar a falta de reajuste salarial. “Não vejo a imprensa abordar que existe esse problema da falta de reajuste de vencimentos há uma longa data”, disse. Moro foi questionado ainda sobre o filme “Polícia Federal – A Lei é Para Todos” e o seriado “O Mecanismo”, lançados recentemente e inspirados na Lava Jato. Disse que viu ambos. “Os dois produtos têm suas qualidades, mas há uma série de liberdades criativas que são tomadas. Não retratam propriamente a realidade como aconteceu.” Ele, no entanto, disse haver situações “que conferem com o que apareceu na realidade”.
O programa de ontem à noite foi o último comandado pelo experiente jornalista Augusto Nunes. A entrevista bateu recordes de audiência e chegou a ser o assunto principal no twitter, em todo o mundo. Antes da entrevista, manifestantes prós e contra Moro se aglomeraram nas proximidades da entrada principal da TV Cultura. Participaram da entrevista o editor-executivo da Folha de S.Paulo, Sérgio Dávila, o diretor de jornalismo do Grupo Estado, João Caminoto, a diretora de Redação da Época, Daniela Pinheiro, o diretor de jornalismo da Bandeirantes, Fernando Mitre, e o jornalista Ricardo Setti.
