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SEM CONSOLAÇÃO –

O voo da Chapecoense perdeu-se em nuvens assombrosas, matando bem mais que um time ascendente. Liquidou esperanças. Tragédia, e seus sinônimos  desgraça, fatalidade, calamidade ou catástrofe, a  adjetivação é franca e legítima, requer solidariedade, gesto tão incomum quanto  a queda do avião que matou, dentre tantos, um astro do meu tempo: Mário Sérgio Pontes de Paiva, malabarista da bola, genioso e genial, controvertido comentarista.

Palavras não sufocam a dor dos que ficam. A morte é para sempre viva no vazio, no jamais do cotidiano de cada família. Deus tome conta , Deus conforte, Deus console, Deus resolve, Deus amenize. Cada clamor é intuitivo e a mania bem brasileira de suavizar cancro com esparadrapo espiritual, não vai sequer chegar ao pedágio do coração de cada mãe, viúva, dos filhos, dos irmãos, dos amigos e dos colegas de uma por uma das cerca de 70 vítimas.

Nas minhas dores pessoais,  as frases entravam num ouvido e saíam no outro, como que ditas em mandarim. Os mortos não voltam. Lá do infinito, lugar em que GPS não alcança.

Deus não haverá de punir a crucial verdade: nas perdas fraternais, é insuperável a saudade, amenizada no companheirismo, na vida real do afeto.

Não há consolação que atenue o grito lancinante de quem fica e voltará para casa. Sem chance de rever quem perdeu. Ou será diferente com o filho do técnico Caio Júnior? Ou com a família do volante Gil? A vida é crua, cruel e também tem quatro letras.

Que Deus – aí sim – mostre as pessoas, em especial as materialistas e gananciosas, aquelas bem sacaninhas, que uma pane qualquer e vamos embora, sem nenhum tesouro ou poder para exibir seja lá onde for.

Rubens Lemos FilhoJornalista

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