SAÚVA VERSUS CORRUPÇÃO –
“Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil”, esta frase foi cunhada pelo naturalista francês, Auguste de Saint Hilaire, no século XIX quando em viagem pelo país, alertando sobre o perigo do avanço das formigas forrageiras sobre as lavouras e a flora brasileiras.
O Brasil não acabou com a saúva pelo fato de integrar o nosso ecossistema, mas soube controlar a disseminação da praga com “iscas formicidas”, óleo de Neem e prevenção.
O momento se adequa para uma analogia com a frase acima: “Ou o Brasil acaba com a corrupção, ou a corrupção acaba com o Brasil”. Tal qual a saúva que aqui proliferava sem controle, ameaçando o país, em posição similar nos vemos hoje dominado pela corrupção.
Os focos dessa praga estão disseminados em variadas instituições da nação, sejam elas públicas ou privadas. Em todos os poderes constituídos existem marcas de corrupção, criando espaços para a acomodação do crime organizado. Urgem medidas drásticas para conter o crescimento desse mal.
A célebre fala da peça, Hamlet, de William Shakespeare, “existe algo de podre no reino da Dinamarca”, se encaixaria numa outra analogia relacionada ao momento brasileiro. Sem qualquer dúvida, “existe algo de podre na república do Brasil.”
Em 1822, D. Pedro I, rebelou-se e libertou o Brasil do jugo de Portugal, criando o nosso próprio império, sem disparar um tiro sequer. Em 1889, D. Pedro II, por extremo amor ao Brasil, preferiu abdicar do trono e se refugiar em Paris para não ver derramado o sangue de seus súditos. Criou-se a república que perdura há 136 anos.
Estabeleceu-se a democracia, regime com o qual o brasileiro se identificou e não deseja mudança. Como em qualquer modalidade de governo, também existem seus pontos falhos que necessitam de correções e adaptações. Assim como a saúva foi controlada o corrompimento requer ser extinto.
Não precisamos usar de violência para livramos a nação da podridão da corrupção. Nada de mudança de regime político, nada de golpes de estado, nada de revoluções, embates armados, cabeças rolando, apenas métodos rigorosos para eliminar o mal, tal qual foi feito para o combate da saúva.
O problema é que vivemos uma crise de falta de confiança em nossos governantes, porque o que é dito no calor das campanhas políticas se traduz em realidades contrapostas no exercício do mandato. Governar no Brasil de hoje é gozar de privilégios, jamais submeter-se a sacrifícios pessoais.
Compete ao Congresso Nacional dar o exemplo com a implantação de penalidades duras que inibam a prática da corrupção, seguido da rigorosa observância na aplicação da lei – se bem que pouquíssimos brasileiros acreditam que isso aconteça e que seja posto em prática com a retidão necessária.
Exemplos como os ataques às pensões de aposentados nos dão a real dimensão da podridão que impera entre nós, liderada pela corrupção. O ímpeto de “levarmos vantagem em tudo”, até na ilegalidade, estabeleceu-se no nosso caráter. E isso também precisamos combater.
Há poucos dias o Congresso ampliou a pena para quem roubar, receptar ou negociar fios de cobre das vias públicas. A corrupção merece idêntico tratamento. Domesticamos as saúvas e poremos fim à corrupção. Quando? Não sei precisar! Mas acredito, piamente, que esse dia chegará. Aleluia!
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil
