O Sistema Fecomércio, em parceria com a Companhia Docas do RN, promoveu na tarde desta quarta-feira, 12, mais uma edição do Programa RN em Foco, que discutiu o tema “Como viabilizar a Cabotagem no Porto de Natal”. O palestrante foi o analista portuário Fabrizio Pierdomenico, e o evento contou com a presença de diretores e executivos do Sistema, além de empresários, industriários e autoridades portuárias.
Na oportunidade, o presidente da Codern, Pedro Terceiro de Melo, entregou ao presidente Marcelo Queiroz, a Medalha do Mérito Portuário, em alusão ao aniversário de 80 anos do Porto de Natal, comemorado em outubro deste ano. “É com grande alegria que recebo esta honraria, pois sei que ela é fruto do trabalho que temos feito, à frente do Sistema Fecomércio do Estado, em defesa do Porto de Natal e da sua consolidação como importante instrumento dentro da política de desenvolvimento econômico do estado”, agradeceu.
O diretor-presidente da Companhia Docas do RN, Pedro Terceiro de Melo considera que a principal barreira para a cabotagem no Brasil é o hábito. “Com esta discussão de hoje, o estado parte na frente de uma discussão que é determinação para todo o país com o anúncio do programa de investimentos em portos pelo Governo Federal, por meio da publicação da Medida Provisória 595”, analisou. O presidente da Fiern, Amaro Sales, destacou que “há tempos enxergamos a necessidade da cabotagem. É preciso que entidades como Fiern, Fecomércio, e Fetronor, por exemplo, se unam para viabilizar isso, que só vai trazer benefícios”.
Cabotagem é a modalidade de transporte marítimo que é feita apenas entre portos de um mesmo país, e que por apresentar custo reduzido, mais segurança para a carga, confiabilidade dos prazos, baixos níveis de avaria, e reduzidos impactos ambientais, é vista como fundamental para o desenvolvimento da economia regional. O presidente do Sistema Fecomércio, Marcelo Fernandes de Queiroz, ressaltou que “os custos com transporte são historicamente um dos grandes gargalos para o crescimento econômico do nosso país. Não tenho dúvidas de que usar bem o transporte marítimo será de grande valia para o setor do comércio e serviços do RN”.
Na palestra, o analista portuário, Fabrizio Pierdomenico disse que em vários momentos foi questionado se a cabotagem não iria tirar empregos na modalidade de transporte rodoviário. “Muito pelo contrário. As modalidades de transporte devem ser complementares. Com a cabotagem, o que muda é o sentido: o transporte rodoviário deixar de ser de norte a sul – papel que será desempenhado pelo transporte marítimo – e passa a se interiorizar, levando para dentro do país as mercadorias que chegam aos portos”, explicou.
Ele também destacou que nos anos 20 e 30 a cabotagem era um meio de transporte muito usado devido à má qualidade das estradas. Ao longo dos anos foi sendo substituído pelo modal rodoviário, e que chegou aos anos 80 e 90 quase sem expressão nenhuma. “Um dos principais fatores foi a inflação. Quanto mais rápido a mercadoria saísse do fornecedor, e chegasse ao seu destino, menos a inflação iria interferir no preço do produto”, analisou.
O potencial do Brasil para a cabotagem pode se mostrada nos números: são 7.400 km de costa, 32 portos púbicos, além disso, a maior parte da população mora no litoral. Porém, nos últimos 10 anos a cabotagem cresceu somente 41%, muito pouco comparado ao crescimento do comércio exterior, que no mesmo período aumentou três vezes o seu fluxo. E da carga transportada entre os nossos portos, somente 4% é de carga geral, ou seja, aquela que é transportada em conteiners.“Isso é muito pouco em relação ao nosso potencial”, comentou Fabrizio.
De acordo com a apresentação do palestrante, as maiores dificuldades para o transporte de cabotagem no Brasil é justamente este crescimento pouco significativo, a carência de linhas regulares de navegação entre os portos, a falta de competitividade, estruturas tarifárias complexas, e a ineficiência dos serviços portuários. Os maiores desafios são criar uma legislação adequada, gerar estímulo à ampliação e modernização dos portos e, principalmente, a reorganização logística dos meios de transporte.
Pierdomenico ressaltou que agora é aproveitar as oportunidades, como a alta dos combustíveis e a evolução da privatização das rodovias, e criação do Grupo de Trabalho Pró-cabotagem, que vai a estudar a viabilidade e elaborar propostas para este modal. “É preciso fazer um estudo de mercado, romper com a cultura rodoviarista, e fazer com que os empresários entendam a importância, já que muitas vezes quem tem a carga desconhece que a cabotagem pode ser um bom negócio”, finalizou.
