Valério Mesquita*
A simplicidade, a humildade e a distância talvez tenham sido os fatores que sempre afastaram de uma cadeira na Academia de Letras do Rio Grande do Norte o escritor nacional Renard Quintas Perez, nascido em Macaíba a 03 de Junho de 1928.
Renard nunca teve a jactância nem a soberba de outros que obtiveram a vitória do reconhecimento dos intelectuais conterrâneos. É um escritor pobre, mas de uma bibliografia rica, como contista de valor indiscutível e que alcançou os mais expressivos aplausos da crítica e do público. Contos como Os Sinos, O Tombadilho, a novela O Beco, o romance Começo de Caminho: o Áspero Amor, que obteve o prêmio nacional de ficção em 1968, receberam a consagração de escritores do porte de Marques Rabelo, Dinah Silveira de Queiroz, Herberto Sales e José Condé. Inclusive, vários dos seus contos estão traduzidos para o francês, o italiano e o polonês, ratificando o seu talento de ficcionista, repórter literário e jornalista.
O seu pai, Jaime Quintas Perez era espanhol e residiu com a família na antiga casa onde, anos depois, veio a residir o advogado Enock de Amorim Garcia. A residência ainda conserva alguns traços arquitetônicos do início do século passado, bem assim, alguns cômodos interiores. Renard fez os seus estudos preparatórios em Fortaleza e no Rio de Janeiro, onde se formou em Direito em 1951 e colaborou com os jornais Correio da Manhã e Jornal do Comércio.
O seu irmão Rossini Perez seguiu o mesmo caminho cultural, mas nas artes plásticas, conquistando renome nacional. O crítico Mário da Silva Brito, assim resumiu o seu talento intelectual: “Renard Perez é um escritor vivo, um valor permanente das letras brasileiras, um contista seguro do seu instrumento de trabalho e criador de um universo de ficção em que sempre está presente o homem com suas alegrias e frustrações, os seus sofrimentos e anseios. É um escritor solidário com a humanidade que sabe tornar a sua arte uma forma de compromisso com a vida”.
Ressuscitando o seu nome e a sua obra, que ainda é bem mais vasta do que a citada aqui, alfineto o braço das instituições que o esqueceram quase deliberadamente. As minhas observações não têm o ranço de desconhecer o valor cultural de inúmeros conterrâneos que ocupam cadeiras na nossa Academia mesmo residindo em outros Estados. Não. Todas as escolhas foram merecidas e valorizadas. Todavia, não posso deixar de proclamar que o escritor potiguar Renard Perez foi esquecido. “Esqueceram de Mim”, poderia dizer Renard mas não o faz porque é muito humilde para tal faceta cabotina.
Valério Mesquita – Escritor, Presidente do IHGRN – [email protected]
