REMINISCÊNCIAS –

É voz comum que a pior coisa que acontece na velhice é ver os amigos partindo para a eternidade, isso porque vão escasseando aqueles que vivenciaram conosco momentos marcantes de nossas existências e com os quais revisitávamos tais lembranças para que elas não se perdessem no vazio do esquecimento.

É por isso que geriatras e especialistas da área insistem nas orientações para idosos, visando encetarem novas amizades e socializarem o quanto puderem para não se alienarem do mundo. E haja – perdão pela sinceridade da opinião -, os enfadonhos clubes de danças, as excursões de idosos e um baú de outras opções chatas.

O que fazer quando alcançar esse estágio da vida? De início, agir com firmeza ante a ação da ferrugem no cérebro, combatendo o dito Alzheimer. Nada de amizade com tal sujeito. Como proceder? Enfie a cara na leitura, faça exercícios físicos e palavras cruzadas, aprenda a cozinhar, crie atividades diversas e de seu agrado para a mente não amofinar.

Escavar reminiscências junto a pessoas de diferentes momentos de nossa vida é maravilhoso e salutar. Em mesas de bares, restaurantes ou onde os possam encontrar para apreciar papos descontraídos, sem as preocupações de compromissos e horários de antigamente. Vivenciar com dignidade a fase de repouso do guerreiro.

Existe um local que é um balaio de surpresas para esse tipo de papo imprevisível, mas que ninguém atenta para a sua importância: os supermercados e as feiras livres. Isso mesmo, cada vez mais cresce o número de idosos indo às compras para encontros ocasionais com pessoas conhecidas.

Confidenciou-me um amigo, o Bem-Te-Vi, que quando a mulher lhe entrega a lista de mercadorias da semana, ele vai ao supermercado duas ou três vezes no mesmo dia, fazendo as compras por etapas só para ter o pretexto de sair de casa e se deparar com algum amigo ou conhecido para uma conversa eventual.

É quando aparecem pérolas de papos deste tipo: – Valdenilson, como se chamava o whisky contrabandeado que levávamos para tomar nos carnavais do Aeroclube? A resposta:  – Gabriel, se não me falha a memória, o whisky mais consumido naquele tempo era o Cavalo Manco, Cavalo Bronco, ou algo parecido.

– Cara, nunca esqueci quando quase levastes uma surra do pai de uma moça no clube do América FC, no Tirol. Fostes tirar uma jovem para dançar e ela se negou a ir afirmando estar cansada. Insatisfeito, pusestes uma moeda sobre a mesa, dizendo: – Da próxima vez venha de ônibus! Recordas o nome dela?

– Eu lembro que ela tinha o nome da menina de uma música de Ataulfo Alves. Aquela que na estrofe diz: “…Onde andará Isabelinha/Meu primeiro amor onde andará…”. – Negatico, a canção é “Meus Tempos de Criança” e o nome da menina é Mariazinha. Valdenilson, rebate: – Que seja! Que seja! O importante é que você entendeu. 

Reproduzo aqui a mensagem acerca do tema, enviada por meu colega de turma, Manoel Neto: “É preciso encarar tudo com otimismo, porque somos frutos de um processo evolutivo e não somos eternos”. Em suma: Inútil estrebuchar ou encucar com a dureza da realidade, pois nada nem ninguém poderá modificar tal processo.

 

 

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil

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