QUANDO A RAZÃO SE ESCONDE E PAZ É SILENCIADA –
Nos últimos tempos, tornou-se comum testemunhar uma verdadeira queda de braço simbólica entre situação e oposição no Brasil, com reflexos intensos nas redes sociais. O que antes era um embate natural e necessário dentro da democracia, hoje se transforma em um cenário de polarização tóxica, marcado pela radicalização e pela intolerância mútua.
A política, antes debatida nos parlamentos e nos espaços públicos, passou a ser travada em ambientes virtuais, onde memes substituem argumentos, manchetes descontextualizadas moldam convicções e a razão dá lugar à fúria ideológica. A dúvida é atacada como fraqueza, e o diálogo, rejeitado como rendição. Nesse cenário, a paz é interpretada como desinteresse político, quando na verdade deveria ser um objetivo comum.
Façamos aqui uma analogia:
O Brasil se encontra como dois grupos em margens opostas de um precipício. No meio, uma ponte de madeira frágil, sustentada por pilares como o respeito, a democracia, o diálogo e a tolerância. A cada ataque gratuito ou tentativa de deslegitimação do outro, uma dessas tábuas se rompe. Quando for necessário atravessar para negociar, talvez já não haja ponte, apenas o abismo.
É urgente resgatar os pilares abandonados da razão e da paz. A razão, neste contexto, significa ponderação, escuta ativa e compromisso com a verdade. A paz, por sua vez, não se confunde com inércia: ela é a convivência democrática entre os divergentes. O papel da oposição não é destruir, mas fiscalizar com responsabilidade e apresentar alternativas. O papel da situação não é governar por imposição, mas com diálogo e abertura ao contraditório.
O cidadão comum, por sua vez, deve refletir sobre sua participação nesse cenário.
Ao curtir, comentar ou compartilhar conteúdos, escolhe se colabora para construir pontes ou para incendiá-las. A democracia não é uma guerra de aniquilação mútua, mas uma construção coletiva de consensos a partir dos dissensos.
Que essa queda de braço entre situação e oposição dê lugar a um gesto mais nobre e necessário: o aperto de mãos republicano. O Brasil só avançará se a razão voltar a ser ouvida e a paz, novamente perseguida.
Raimundo Mendes Alves – Advogado (OAB/RN 2226), Procurador aposentado, vereador em São Gonçalo do Amarante/RN, e defensor da democracia
