PROMESSA DE AMOR-PRÓPRIO –

Desde jovem, aos 15 anos de idade — em janeiro de 1972, quando deixei minha terra natal, a longínqua cidade de Aiuaba, no sertão do Ceará, e cheguei a Natal — despertei em mim a ideia, quase como um chamado silencioso, de que seria o responsável por construir a minha própria história.

Na mala, pouca coisa. No coração, um mundo inteiro. Vinha de um chão árido, porém fértil em sonhos. E mesmo sem saber ao certo o que me aguardava, trazia uma certeza: eu me faria inteiro, mesmo com as partes quebradas.

Entendi, ainda cedo, que a vida não nos entrega destinos prontos — ela oferece escolhas. E que crescer, às vezes, é caminhar com medo mesmo, aprender com a dor, e confiar que o amanhã pode ser diferente se a gente não desistir hoje.

Carreguei feridas silenciosas, amarguei ausências, enfrentei quedas. Mas fiz uma promessa para mim mesmo — daquelas que não se dizem em voz alta, mas ecoam no fundo da alma:

Prometi cuidar de mim.
Prometi cuidar da minha família.
E prometi fazer o possível pelos mais carentes — ser presença, ser apoio, ser abrigo.

Porque, para mim, vencer na vida nunca significou apenas subir — mas levar comigo aqueles que não tiveram as mesmas oportunidades. Compreendi que cuidar do outro também me cura. E que estender a mão a quem precisa é um gesto que enobrece, dignifica e fortalece a alma.

Prometi curar minhas dores com coragem, e não com disfarces.
Prometi olhar meu passado com respeito, porque foi ele que me forjou.
Prometi reescrever minha história com dignidade, mesmo que as páginas anteriores tenham sido difíceis.

Prometi não abandonar meus sonhos.
Aqueles que nasciam em noites solitárias, que resistiam ao cansaço e à crítica.
Sonhos que me empurravam adiante mesmo quando tudo ao redor gritava para eu desistir.

E acima de tudo, prometi aprender a me amar mais.
Me amar com a generosidade que tantas vezes dei aos outros.
Me amar com paciência, reconhecendo minhas imperfeições sem culpa.
Me amar com orgulho — não do que conquistei, mas de quem me tornei.

E essa promessa, eu não vou quebrar.

Porque ela é meu porto.
Meu escudo.
Meu reinício sempre que o mundo me tentar convencer de que não sou suficiente.

Hoje, honro aquele menino de 15 anos que veio de Aiuaba com os olhos cheios de esperança e sonhos. E honro o homem que ele se tornou, porque aprendeu — a duras penas — que amar a si mesmo, cuidar da sua família e fazer o bem ao próximo são os três pilares que sustentam uma vida com propósito e significado.

Essa promessa de amor-próprio não é apenas uma declaração; é um compromisso diário comigo mesmo.
Um pacto sagrado que me lembra de que sou capaz de superar obstáculos, aprender com meus erros e crescer como pessoa.

É um lembrete de que, independentemente das circunstâncias, posso escolher como quero viver e como quero ser lembrado.

Com essa promessa, posso enfrentar qualquer desafio com coragem e determinação.
Posso olhar para o passado com respeito e gratidão, sabendo que ele me moldou na pessoa que sou hoje.
Posso viver o presente com intensidade e propósito, sabendo que cada momento é uma oportunidade para aprender e evoluir.
E posso olhar para o futuro com esperança e confiança, certo de que tenho dentro de mim as ferramentas necessárias para alcançar meus sonhos.

E assim, com a alma renovada e o coração cheio de gratidão, sigo em frente.
Sabendo que a vida é um caminho de autoconhecimento, amor e propósito.
E que, com essa promessa, posso construir uma existência autêntica, significativa e plena.

Sigo, de cabeça erguida, honrando cada passo, cada cicatriz e cada promessa feita por aquele menino sonhador que chegou a Natal em 1972 — e que nunca desistiu de ser inteiro.

 

 

 

 

 

 

Raimundo Mendes Alves – Ex-policial, advogado criminalista e vereador

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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