VALEU, NICETTE –
O “apagão cultural” de 2020 não foi apenas pela continuidade da descrença de uma política pública, que elegeu a Cultura como adversária ideológica. As vítimas mortais do COVID 19 se somaram de modo comovente, tanto em quantitativos assustadores, quanto em perdas irreparáveis. O setor atravessa 2020 como um dos mais difíceis da sua história.
O que dizer da perda de alguém da estirpe de Nicette Bruno, com 70 anos de uma carreira irreparável? Afinal, ela fez parte de uma geração ímpar, que tem e terá lugar assegurado no panteão dos grandes artistas. Uma típica atriz visceral (como Sandra Bertini bem a definiu), de luz própria, focada no seu compromisso fidedigno com a arte. Ou seja, luzes, holofotes e projeções, foram única e exclusivamente usados para o exercício do seu trabalho. Para artistas tão especiais como Nicette, a humildade e empatia fizeram a diferença, porque estão impregnadas e emparelhadas ao dom e talento.
Sempre tive por Nicette essa impressão de naturalidade e simplicidade também fora a atividade artística. Para isso recorro ao exemplo de amor demonstrado no seio familiar. Seus mais de 60 anos de convívio harmonioso com o não menos talentoso Paulo Goulart, não só orgulhava seus pares, como servia de inspiração para muitos casais. De fato, um casal referência, capaz de revelar para tantos outros inseguros o quanto a tolerância pode ser um simples manejo de uma força maior chamada amor.
Agora na eternidade, a estrela retoma com seu amado velhas lições de amor.
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Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco
