GALEANO AO SOL E O FUTEBOL À SOMBRA –
Hoje, 3 de setembro, o escritor uruguaio Eduardo Galeano faria 80 anos. Embora não tenha concordância plena com a essência ideológica dos seus textos, sempre admirei seu estilo e sua criatividade no escrever. O juízo democrático tem dessas coisas. Pode-se não concordar com uma parte ou tudo dos autores, mas é preciso dar o devido mérito nas formas que transmitem suas mensagens para o público. Costumo agir assim, separando o talento intelectual e artistico das opções políticas. Afinal, o que me interessa mesmo é a obra.
Por ser um tema de satisfação comum, escolhi o futebol como elemento dessa minha homenagem. Galeano enxergava e reproduzia em texto todo um lirismo, que só os apaixonados pela bola conseguem identificar e traduzir. Nesse particular, por exemplo, a simbiose cultural que une brasileiros e platinos (uruguaios e argentinos), seja pelo jogo de cintura ou pelos movimentos do “tango”, do “samba” e “da capoeira”, mostram bem o lado habilidoso desses povos, traduzidos em conquistas futebolísticas. Para os clubes e as seleções da “tríplice aliança” do futebol sul-americano. Essa é uma interpretação bem colocada por Galeano num dos seus belos textos: Futebol ao Sol e à Sombra. Nessa mesma linha, extraio outras opiniões interessantes:
“Não passo de um mendigo do bom futebol. Ando pelo mundo de chapéu na mão e nos estádios suplicando por uma linda jogada.”
“A tecnocracia foi impondo um futebol de velocidade e força, que renuncia a alegria, atrofia a fantasia e proíbe a ousadia.”
“O gol é o orgasmo do futebol.”
E tenho aqui uma última, bem apropriada para esses tempos de pandemia, que ainda impõe restrições a eventos presenciais, a saber:
“Você já entrou num estádio vazio? Experimente. Pare no meio do campo e escute. Não há nada menos vazio que um estádio vazio. Não há nada menos mudo que as arquibancadas sem ninguém.”
De fato, como estrela na escrita, Galeano está ao sol. No entanto, pelo nível técnico hoje jogado, o futebol está à sombra. Que me valha trocar as palavras dessa obra, para lhe render essa singela homenagem.
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Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco
