A “DOPAMINA VIRTUAL” E A NEGAÇÃO AO CONTRADITÓRIO –

Comentei que os episódios discriminatórios recentes têm muito a ver com o que se propaga nas redes sociais. Claro que nesses casos, a demonstração de supremacismo econômico e racismo partem antes de um preconceito estrutural, daquilo que Da Matta tratou como uma questão de comportamento da estratificação social brasileira. Justo o papel dos que não conseguem administrar seu status na sociedade, sobretudo, em castas como a aristocracia e a tecnocracia (do meio para o topo da pirâmide). Eis aí o fio condutor dos atos de despertar o ódio e de negar o contraditório.

De fato, numa sociedade com esse perfil, do preconceito recluso à discriminação aberta, existirá sempre algum risco. Nesse vácuo é que operam os usuários de redes sociais que assumem posturas perigosas.

Muitos desses, de posse de um aparelho potente, que num teclar garante respostas às dúvidas e satisfaz todos os desejos, rendem-se às verdades impostas. Campo fértil para dogmas que tornam os mais vulneráveis em dependentes compulsivos. Se a insatisfação é algo presente nas sociedades modernas, particularmente, a raiva (enquanto uma face própria do narcisismo) abusa das redes sociais. Essas conseguiram atuar como “porto seguro” das inseguranças, pois são ambientes ideais onde se descarregam polêmicas apaixonadas na defesa do que julgam ser a verdade. Assim sendo, todo incentivo contra as indignações resulta numa sabedoria coletiva e “popular”, que nega e conspira a favor do anti-sistema, do anti-establishment, do anti-convencional.

Nessa força que advém do mundo virtual, juntam-se pensamentos extremos. Por eles, os “dependentes” se sentem ameaçados e reagem aos valores democráticos. Em complemento, desacreditam dos princípios multiculturais e multi-étnicos.

A ponte agora é entre o preconceito basilar de certas castas e a discriminação nutrida pelas redes. A “coragem” de soldado combatente desse mundo virtual termina por dar forma e força no mundo real.

A “dopamina virtual” só endurece o jogo das relações interpessoais. Contradição de uma tecnologia que veio para unir.

 

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