“EMSIMESMISMO”: MOVIMENTO ÉTICO PELA CONSTRUÇÃO DO OUTRO BRASILEIRO –
Já tive oportunidade de expor aqui meu mero juízo de valor sobre a ética brasileira. Para isso, bebi nas fontes da sabedoria de quem julguei como nomes pertinentes para meu intento. De pronto, pus em conta o maior escritor brasileiro de todos os tempos: o genial Joaquim Maria Machado de Assis. Em seguida, relevei um intelectual atualíssimo, que me fez pô-lo já no pedestal dos bons intérpretes que pensam este país: Eduardo Giannetti da Fonseca.
A genialidade de Machado está na sua precisão de cronista de uma realidade brasileira, que se mantém resistente ao tempo. Do seu ofício literário, extraem-se personagens que sobreviveram e refletiram, com o mesmo vigor, “um jeito brasileiro de ser”. Entre Brás, Bentinho e Jacobina está em comum um padrão ético, no qual o brasileiro nunca é ele próprio, o da imagem no espelho. Ou melhor, ele é o “outro” que se enxerga e diz ser o que não é.
De Giannetti, que se embasa na mesma riqueza machadiana, mas numa lógica epistemológica, extrai-se uma boa análise filosófica sobre o atavismo da ética que prevalece no brasileiro atual. Um ser do presente, que tem raízes semelhantes àquelas de uma realidade secular. Como exemplo, o jovem de hoje que vai às ruas pedir moralidade pública aos governantes. Ele é o mesmo que em sala de aula faz da “cola” seu testemunho ético. Nada mudou.
Então, qual é o verdadeiro brasileiro? O que se vê na real do espelho, que não é diferente do que prega ou que diz ser? Ou é esse outro, que representa algo além da imagem refletida, agente da boa conduta e ética?
Para pensar o que se quer deste país e daí se saber os meios para o alcance dos objetos possíveis, é preciso entender esse ser dúbio chamado brasileiro.
Pela necessidade de se revogar tal princípio proponho um movimento: o “Emsimesmismo”. Longe de ser uma espécie de narcisismo conceitual, trata-se de um esforço que permita o brasileiro olhar para dentro de si, enxergar a ética e passar a praticá-la por princípio.
Em vez do brasileiro ser o outro, é preciso agora que ela seja um outro brasileiro. Como fazê-lo mudar? Isso cabe noutro texto.
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Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador, ex-presidente da Fundação Joaquim Nabuco
