PEDAÇOS SOLTOS DE SILÊNCIO –

Às vezes o silêncio dentro de nós é tão alto que abafa o som do mundo. É um vazio que não se enche com palavras, apenas com a dor de existir, e a pessoa fica parada, esperando que o caos interno imploda e leve junto o que resta de si.

Esse oco, então, se revela não como ausência, mas como uma sombra projetada pela própria luz que insiste em brilhar. Ele se espalha pelos cantos da memória, desenhando fissuras onde antes havia a ilusão de solidez. O caos não chega como inimigo, mas como um lembrete cruel de que a arquitetura da alma é feita de fragmentos que nunca se encaixam perfeitamente.

Quando a tempestade interior se agita, ela arrasta consigo as máscaras que se usou para fingir completude. Fica à beira de um abismo que, paradoxalmente, também é um portal — o lugar onde o “eu” se desmonta, pedaço a pedaço, na esperança de que, em algum momento, uma nova forma surja.

A loucura, nesse contexto, não é um castigo, mas uma língua esquecida, um idioma que o universo sussurra para quem se atreve a ouvir. É o peso de uma alma que carrega mais do que o corpo pode suportar e que, ainda assim, insiste em respirar.

Não se trata de preencher o vazio com ruídos externos, mas de habitá-lo com a delicadeza de quem aprendeu que o silêncio também fala. O peso se torna suportável quando a pessoa aceita a queda e, mesmo sem ver, sente um fio de luz distante, tênue, que puxa de volta não para a normalidade, mas para a consciência de que a existência é uma teia de contrastes.

E assim, os fragmentos permanecem suspensos, cada um guardando sua própria luz e sua sombra, eternamente à deriva. O que resta é a quietude de quem reconhece que, mesmo imerso, há um ritmo silencioso que insiste em pulsar, um eco que não precisa ser ouvido para existir. Há uma história sendo escrita… No silêncio.

 

 

 

 

Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora dos livros As Esquinas da minha Existência e As Flávias que Habitam em Mim

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