OS SONS DA EMOÇÃO –

Tenho, no meu acervo, um DVD que sempre revejo quando quero experimentar um momento especial. É um show do tenor Andrea Boccelli realizado em 2008, no denominado Teatro del Silenzio, entre morros e verdes campinas de Lajatico, na região da Toscana, na Itália. Boccelli divide as suas performances com as cantoras Heather Headley, norte americana, Sarah Brightman, inglesa, e as italianas Elisa e Laura Pausini, além do saxofonista Kenny G, do trompetista Chris Botti e do fantástico pianista chinês Lang Lang. São duas horas de puro prazer e deleite, quando a extrema competência e talento desses artistas nos conduzem para pouco trilhados caminhos de emoção.

Não tenho dúvidas de que a música sempre foi, na história, um dos elementos mais importantes de todas as realizações humanas. É uma valiosa apropriação de um dos recursos da Natureza pelo homem, que percebeu na vibração de cordas, no ressoar das superfícies, no soprar do vento, no marulhar das águas dos rios e dos mares alguma coisa de mágico e especial, cujo significado, nos primórdios da vida humana, escapava de uma análise racional. Somente o progresso nos permitiria a compreensão desse fenômeno natural e imprescindível, integrado e assimilado, sem reservas, por todos os povos, e que veio arraigar-se como uma – talvez a melhor – produção material de que o nosso gênero é capaz.

E desde os mais rústicos, incipientes e primitivos sons e cantos tribais, o homem aprendeu a conviver com a música, apanágio de qualquer ser pensante e provido de sentimentos, até atingirmos as sofisticadas obras dos grandes mestres, que com sua arte, nos estimularam o pendor para a magia das canções. É dessa forma que, em meio aos dissabores da nossa existência política e social, podemos ouvir uma bela sinfonia de Haydn, Mozart, Beethoven, concertos para piano, violino, cantatas, solos e oratórios sacros, as performances das grandes orquestras de variados estilos, até a era moderna e a profusão das óperas com suas árias maravilhosas. Nos emocionamos com o Nessum Dorma, do drama Turandot, ou Um Bel di, Vedremo, de Madame Butterfly, da mesma maneira que nos encantam os ritmos apaixonados popularizados pelas vozes especiais de Bing Crosby, Nat King Cole, Tony Bennett, Frank Sinatra, entre os norte-americanos mais festejados, ou um Charles Aznavour, que elevou a canção francesa a um nível de popularidade e aceitação digno de registro. No Brasil, celeiro de boa música, Carlos Gomes e Villa-Lobos fazem parte de uma lista composta dos geniais Pixinguinha, Valdir Azevedo, Jacob do Bandolim, de celebrados e populares sambistas, do virtuosismo da Bossa Nova, um universo onde brilham inúmeros compositores e intérpretes de lindas e emocionantes canções do passado.

Neste resumo de uma confessada paixão pelos sons da emoção, sou levado a pretender que a música deveria tornar-se uma linguagem mundial, universal, transformada no elo para a união e a melhor convivência entre todos os povos. É o que imaginamos quando assistimos a um show como aquele de Andrea Bocelli, ou quando vemos os concertos grandiosos, feéricos e alegres do maestro André Rieu, seus cantores e fabulosa orquestra. Os eventos musicais poderiam tornar-se duelos de virtuosismo e qualidade artística entre raças e nações, assim como os Jogos Olímpicos ensejariam o cotejo da pujança e da força nacionais, sem a presença dos confrontos ideológicos e políticos apoiados na linguagem das armas.

A nossa geração, com certeza, nunca verá isso, e acho que nenhuma outra verá. Porém, nesta idade, eu ainda posso sonhar, desejar, querer, e, assim, como uso boa parte do meu tempo para ouvir e praticar a música, também abuso do autoatribuído direito de alimentar-me de românticas quimeras.

 

 

 

 

 

Alberto da Hora – escritor, cordelista, músico, cantor e regente de corais

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