ONDE? –

Acordo cedo e lembro de parte de meu sonho. Sim, amo a sensação de lembrar do que sonhei, mesmo que pequenas partes, mesmo sem conseguir encaixar na minha realidade.

Sonhei com a calça da Soriedem! Quem é de Natal-RN, 40+, sabe sobre o que falo. Havia uma caixa d’água em forma de calça comprida que ficava onde hoje é o Carrefour da Salgado Filho. Acho que representava uma fábrica ou algo assim. O que importa é que ela estava lá, durante toda minha infância e adolescência e eu achava que nunca deixaria de estar. Até que… Até que não estava mais.

Fiquei pensando nela e, como uma coisa leva a outra, lembrei da estátua do anjo azul, na Hermes da Fonseca, o qual foi despedaçado como uma vítima de serial killer canibalista e posto seus restos mortais numa praça no conjunto Alagamar, em Ponta Negra. Foi a última visão que tive dele. Seus pedaços separados por metros de distância e mostrando suas veias de ferro retorcido. Fiquei triste com a cena.

Pensei também no burrinho que marcava o trecho onde podíamos ir para o Morro do Careca ou para a Rota do Sol. Era uma escultura de burrinho em tamanho natural, que, após as obras de duplicação daquele trecho, SUMIU.

Acordei com sintomas de saudade e fui contar a Flavinho como o sonho com a calça da Soriedem me levou a sentir saudade de coisas que me marcaram.

Ainda triste digo a ele: não lembro quando derrubaram o Machadão para construir a Arena das Dunas para a copa. Não consigo lembrar de forma alguma!

Ele me pergunta se lembro das esculturas no Machadão e também não consigo recordar… mas, ele lembra! Assim como outros também devem sentir falta de tantas coisas na cidade.

Não! Me recuso a pensar que estas esculturas (e a calça caixa d’água) foram substituídas tão facilmente pela estátua da liberdade da Havan e pelo Pórtico dos Reis Magos (gosto dele!) que sempre está pichado.

Cadê nossa cultura?

Cadê nossa memória?

Ficou tudo nos sonhos…

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, autora de “O diário de uma gordinha” e Escritora

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