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O CAMELO –

Quatro amigos caminhavam em silêncio por uma estrada, amargando a dor do desemprego. Todos tinham sido mandados embora, por terem contrariado o soberano a quem, há anos, serviam. Estavam completamente decepcionados, sem saber o rumo que iriam tomar na vida. Aproximou-se deles um homem muito aflito, que perguntou:

– Os senhores viram um camelo, perdido pela estrada? Esse animal me pertence, e desapareceu de repente, sem eu saber o caminho por onde seguiu.

Um dos desempregados perguntou:

– O camelo que o senhor procura enxerga direito ou é cego de um olho?

– Ele é cego de um olho. – respondeu o dono.

– Ele é manco? É aleijado? – perguntou o segundo desempregado.

– É manco, sim! Vocês o viram?

-Ele tem a cauda curta? – perguntou o terceiro.

– Sim, ele tem a cauda curta! Vocês o viram?

– Seu animal sofre do estômago? – perguntou o quarto desempregado.

O dono do animal respondeu:

– Sim. O meu camelo sofre do estômago! Então, com toda certeza, os senhores o viram!

– Não! Nós não o vimos! – protestaram os quatro homens.

Em seguida, todos se calaram e continuaram a caminhada.

Irritado, o dono do animal perguntava a si mesmo:

– Como é que esses homens conhecem os defeitos do meu camelo? Tenho certeza de que eles são ladrões e o esconderam.

E foi prestar queixa ao delegado que, imediatamente, mandou prendê-los.

Muito nervosos, os quatro homens foram interrogados, na frente do dono do animal:

“Este homem acusa vocês de terem roubado o seu camelo.” Disse o delegado.

Os quatro negaram o fato, mostrando-se indignados com a injusta acusação.

O delegado, então, perguntou:

– Como é que vocês dizem que nunca viram esse animal e ao mesmo tempo sabem que ele é cego de um olho, manco, tem a cauda curta e é doente do estômago?

Então, um deles respondeu:

– Como somente as folhas de um lado da estrada estão comidas, tenho certeza de que o animal é cego de um olho.

Disse o segundo homem:

– Pelas pegadas na estrada, vi logo que se trata de um animal manco.

Disse o terceiro:

– Como há algumas manchas de sangue na estrada, entendi que o animal tem a cauda tão curta, que não pode espantar os mosquitos.

Finalmente, o quarto desempregado falou:

– Eu vi que as marcas das patas dianteiras do animal são bem mais fundas do que as marcas das patas traseiras. Isso quer dizer que ele anda inclinado para a frente, como andam os animais doentes do estômago.

O delegado ficou impressionado com as respostas dos interrogados e viu que estava diante de homens decentes, cheios de sabedoria. E os quatro foram liberados.

No caminho, encontraram um emissário do rei, que os mandava chamar de voltar ao reinado, para que continuassem a lhe dar seus conselhos.

No mesmo dia, o animal perdido foi encontrado pelo dono.

Violante Pimentel – Escritora

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