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O número de dias com chuvas muito fortes, com volume acima de 100 milímetros, aumentou seis vezes na Grande São Paulo nos últimos anos. A conclusão é de uma pesquisa do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) que compara o período entre 1940 e 1960 com o intervalo de 2000 a 2018.
Há exatamente um mês, no dia 10 de fevereiro, a capital ficou alagada após um temporal atingir a cidade. Na ocasião, choveu 114 milímetros em 24 horas. O transbordamento das marginais Tietê e Pinheiros comprometeu o trânsito em toda a cidade. Alguns bairros ficaram alagados por vários dias. A Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) teve um prejuízo estimado de R$ 24 milhões.
Dados de duas estações meteorológicas da capital (a da USP, na Zona Oeste da capital, e a do Mirante de Santana, na Zona Norte) comprovam o aumento da frequência de chuvas extremas na região metropolitana de São Paulo. “Em climatologia uma chuva de 50 milímetros a 100 milímetros em um dia já seria uma chuva muito intensa, especialmente em uma região relativamente pequena”, explica José Marengo, coordenador da pesquisa do Cemaden.
O aumento nos últimos anos é grande: na década de 2001 a 2010 foram 4 dias por ano com chuvas acima de 100 milímetros na estação meteorológica do Butantã e 2 na estação do Mirante de Santana. Dados preliminares da década de 2011 a 2020 mostram que a média na década atual é de 7 dias de chuvas acima de 100 mm no Butantã e 4 em Santana. A média da década ainda deve aumentar até o final de 2020, já que a pesquisa considera apenas dados até fevereiro deste ano.
Estado líder em inundação
O estudo mostra ainda que o estado de São Paulo lidera as estatísticas de inundação do país, com 33,36% do número de casos, seguido por Santa Catarina (11,25%), Rio Grande do Sul (9,06%) e Paraná (8,33%).
A pesquisa teve a colaboração de pesquisadores dos institutos Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Nacional de Meteorologia (Inmet) e de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP).
Enquanto nos anos 1950 praticamente não há registro de dias com chuvas com mais de 50 mm, na última década as estações meteorológicas captaram de 2 a 5 dias por ano com esse volume de precipitação na região metropolitana da capital.
Apesar disso, o número de dias secos consecutivos também aumentou, o que mostra que a chuva está concentrada em menos dias, criando períodos cada vez mais longos de seca e temperatura elevada seguidos de temporais.
O aumento é uma tendência global: em todo mundo o número de tempestades dobrou desde 1980, segundo um estudo do Conselho Consultivo das Academias Europeias de Ciência.
“Considerando a definição de extremos, a gente pegou dados da USP e do Mirante de Santana e começamos a analisar o número de dias com chuvas acima de 100 milímetros. E justamente o número de chuvas assim nas décadas de 60 e 70, eram pouquíssimos, e agora nos últimos anos chegamos a uma média de 7 eventos por ano”, explica Marengo.
Segundo o pesquisador, esse volume de chuva pode engendrar uma situação de desastre natural, com enchentes e deslizamentos de terra. Foi o que aconteceu no dia 10 de fevereiro: após uma manhã caótica, São Paulo chegou ter 161 pontos de alagamento ao longo do dia. Os Bombeiros registraram 1.018 acionamentos por enchentes na Grande São Paulo, com 182 desabamentos e 206 quedas de árvores.
Fonte: G1