NATAL: DO SONHO À REALIDADE –

“A MELHOR MANEIRA DE PREVER O
FUTURO É CRIÁ-LO”
Peter Drucker

Enquanto as nossas vizinhas João Pessoa, Recife, Maceió e Fortaleza prosperavam a olhos vistos superando a crise nacional com soluções criativas, Natal permaneceu letárgica, engessada por prescrições urbanísticas ultrapassadas e
radicalismos ambientais, incompatíveis com o habitat natural do homem: a cidade.

No entanto, lamentar o passado não resolve nada. Temos apenas que constatar esse triste fato de forma rápida e eficiente para que o novo pacote de legislações (Plano Diretor, Código de Obras e Regulamentação das ZAPs), impulsione o desenvolvimento sustentável, garantindo qualidade de vida às novas gerações.

Nas minhas elucubrações imagino-me chegar ao Centro de Convenções e encontrar um grande evento, cheio de stands ocupados por escritórios de arquitetura ou grupos de arquitetos e urbanistas, apresentando suas propostas de
projetos para o crescimento de nossa cidade. Seria inspirador!

Não temos mais tempo para errar. O Plano Diretor vigente revelou-se um desastre. Precisamos correr para mudar. Cada erro que cometemos hoje, dificulta, encarece ou até, liquida ações futuras que são essenciais para o bom desenvolvimento da urbe.

Somente a título de exemplo, arriscamos afirmar que os tombamentos de prédios no bairro da Ribeira, se excessivos, poderão liquidar, em definitivo, a importantíssima conexão da Avenida Duque de Caxias com a saída da Ponte Newton Navarro, na Avenida Presidente Café Filho. A malha viária unificada entre os EIXOS DE ESTRUTURAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO URBANA – denominação das vias estruturantes no novo e assertivo Plano Diretor de São Paulo – é, sem qualquer dúvida, a espinha dorsal dos planos modernos.

A propósito, aconselho a todos que se preocupam com o futuro de Natal, a ler a publicação NOVA AGENDA URBANA, adotada na conferência das Nações Unidas, sobre Habitação e Desenvolvimento Urbano Sustentável, realizada em Quito, no Equador, em outubro de 2016. Essa agenda apresenta uma mudança de paradigma na ciência das cidades e estabelece novos padrões e princípios para o planejamento urbano.

Tenho sido procurado nesses últimos dois meses para opinar a respeito desses temas. Embora sem participar de nenhum grupo específico, entabulei diversas conversas informais, sobretudo com colegas arquitetos e urbanistas. Impressiona perceber uma quase unanimidade a respeito dos pontos principais, tanto em relação com áreas físicas quanto ao ferramental de transformação que devem contemplar o novo Plano Diretor.

Passo, então, a exemplificar algumas intervenções por mim imaginadas para tornar Natal uma cidade viável para quem nela reside e, atraente para os que a visitam.

a) Morro do Careca – Imagino o Morro do Careca com um teleférico partindo do seu topo – como o engenheiro Silvio Bezerra concebeu -, em direção a dois equipamentos: um grande mirante e um restaurante suspenso e envidraçado, permitindo a vista panorâmica de 180º de praias localizadas tanto ao Norte como ao Sul dos equipamentos. Ponta Negra é e será o nosso maior cartão-postal. Não permitir o desfrute dessa visão cênico-paisagística daqueles que nos visitam e, sobretudo, do natalense, é inadmissível.

b) Área antropizada entre o Parque das Dunas e a Avenida Roberto Freire – É uma área de fácil planejamento em função de sua topografia quase plana. São aproximadamente 109 hectares. Ali poderemos construir um dos maiores parques urbanos do Brasil. O Parque das Dunas seria a âncora com suas relevâncias ambientais – mata, recarga dos aquíferos, entre outros. Suas estrelas satélites seriam o Bosque dos Namorados com 7 hectares – revitalizado por projetos arquitetônicos atualizados – e o novo parque planejado, que será constituído do que há de mais moderno em equipamentos urbanos. Duas décadas atrás, eu tive o privilégio de estudar tal projeto, por um bom tempo, com o saudoso colega e mestre Moacir Gomes.

c) Praias Urbanas – No espaço entre a Praia de Ponta Negra e a Praia do Forte, eu imagino criar, nos trechos possíveis, no sentido praia-território, uma espécie de Aterro do Flamengo em dimensões reduzidas, com três opções:

Faixa 01 – Alargamento das faixas de areia para reconstruir nossas praias;

Faixa 02 – Praças com paisagismo abundante, equipamentos comunitários bem projetados para todas as faixas de idade, passeios sinuosos e ciclovias; e,

Faixa 03 – Grande boulevard arborizado com instalações elétricas, hidrossanitárias e demais, embutidas.

d) Rio Potengi e entornos – As principais civilizações e cidades do mundo possuem, via de regra, algo em comum: rios e mares como berços para seus  nascimentos. Boa parte das que haviam deixado essas áreas se degradarem ao longo do tempo, ressurgiram fortalecidas e modernizadas no instante em deram a devida atenção a elas. Dois exemplos clássicos são o Parque das Nações em Lisboa e Porto Madero, em Buenos Aires.

O bairro da Ribeira merece ser reconstruído. Ao Oeste do rio, temos a área mais nobre para se projetar em toda Natal, considerando sua posição geográfica e a topografia privilegiada (predominância dos ventos voltada para um aclive, passando por uma grande superfície d’água), além da belíssima visão cênico-paisagística. Para tanto, faz-se necessário excluir dos limites da ZPA 8, a área situada entre o mangue e a Avenida João Medeiros Filho – estrada da Redinha.

Como urbanista, tenho uma preocupação que aumenta a cada dia que passa: a falta de planejamento na conurbação do município de Natal com os outros da Grande Natal, dando ênfase ao município de Extremoz. Entretanto, isso é assunto para outro artigo.

Diz-se que arquiteto que se preza não escreve, desenha. Portanto, pretendo postar, semanalmente, no meu Instagran (@fabianoslp) algumas ideias minhas e de outro colegas, que podem transformar sonhos em realidade.

 

 

Fabiano PereiraArquiteto e Urbanista

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

Uma resposta

  1. As idéias expostas pelo arquiteto/urbanista Fábiano Pereira são de capital importância para Natal.
    Trata-se de um olhar seletivo para o futuro, onde outras grandes cidades do planeta enveredaram com sucesso.
    Espero que a visão de Fábiano sirva de inspiração e motivação para a sociedade natalense, pois, somente assim caminharemos mais céleres para o desenvolvimento da nossa cidade onde todo dia é dia de Natal.

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