NÃO DEIXE PARA DEPOIS… –

É quinta-feira e o verão começa a dar sinais que está bem perto de chegar, aqui no “…país tropical abençoado por Deus, e bonito por natureza…”. O calor da manhã começou com os primeiros raios de sol, rasgando e criando frestas nas cortinas, insistindo em entrar no meu quarto espelhando o brilho daquele dia.

Entrou sim, irradiando os sonhos, energizando a coragem de seguir em mais um dia. As primeiras preces foram em agradecimento à vida, pelo teto, pela família e até por todas as dificuldades que enfrentamos. Afinal, temos um jeito estranho de aprender, como diz o velho jargão: “Se não for pelo amor, será pela dor”.

Acordei com a mente fervilhando, com muitos pensamentos soltos e com uma vontade imensa de enviar mensagem a uma amiga de trabalho. O mais estranho nessa “imensa vontade” era saber que nem somos tão amigas assim. Em resumo, o fato é que já divergimos inúmeras vezes sobre assuntos de trabalho, mas também não posso negar que compartilhamos algumas linhas de pensamentos, risos e o espaço na pequena sala em que trabalhamos.

A flecha do dia passou ligeira, rasgando as horas do tempo e, quando percebi, já era quase noite. Não parei um segundo sequer para lhe enviar a mensagem. Aliás, quando lembrava, pensava: “daqui a pouco eu mando”. O som advindo do celular me alertava que alguém acabara de enviar mensagem.

Fui olhar. Era do grupo de trabalho da Coordenadora nos informando do problema de saúde que havia acometido a nossa colega de trabalho. Sim, a mesma que eu amanheci com a “imensa vontade” de me comunicar.

Fiquei tomada por várias interrogações. O que havia me levado a lembrar justamente dela, naquela manhã? Seria apenas uma coincidência, sensitivismo ou, quem sabe, sororidade? Não sei, na verdade não faço a menor ideia. Agora, de uma coisa estou certa, quando o coração emitir o sinal, não se demore, não postergue, não deixe para depois, lembre-se que o depois pode não existir, e tudo aquilo que poderia ter sido dito, vivido e lembrado, ficou guardado somente para si mesma.

Tenho uma prima que diz ter a necessidade de todos os dias tomar o café da manhã com seus filhos, abençoá-los para o dia que se inicia e acompanhá-los até o portão, e ficar olhando o carro se afastar, até ele sair de sua visão.

Outro dia passei um perrengue grande, aflita com a falta de notícias do meu filho mais velho. Ele havia sumido no final da tarde até quase a meia-noite. Não atendia às minhas ligações e tampouco eu visualizava respostas para as mensagens que enviara para o WhatApp. Pense num aperreio grande!

O pior era não ter tomado o café da manhã em sua companhia. Isso ecoava na minha cabeça: “Eu devia… eu devia… eu devia…”. Até que ele atendeu o celular, após bilhões de ligações e mensagens. Ufa! – não, ele não se livrou de uns bons cocorotes.

Ah, a minha amiga de trabalho está se recuperando. Cumpriu com alguns procedimentos médicos e segue em repouso. Logo ela estará conosco, com as mesmas divergências e consonâncias, retomando a rotina que nos une. Eu lhe enviei a mensagem, e contei sobre o “imenso desejo” que senti. Em seguida, desejei que se recuperasse com calma e leveza.

Quando sentirmos o “imenso desejo” de fazer algo de bom, o melhor é não deixarmos para depois, esperando pelas condições ideais. O ideal no real é sempre o agora. Não deixemos questões inacabadas pautadas no “daqui a pouco eu faço”. Assim sendo, marque o café com as amigas, diga eu te amo quando sentir vontade, mande mensagens quando o seu coração pedir. Ouça-o!

Tenho tido o cuidado de ver meus filhos saindo pela manhã, e quando não saem, vou de fininho curiar, pela brecha da porta, seus sonos. Ali, em silêncio, envio mensagens de bençãos, paz e muito amor.

 

 

 

Flávia Arruda – Pedagoga e escritora

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