MEMÓRIAS GUSTATIVAS –
A minha perspectiva, até então adormecida, por viagens para o exterior foi aguçada pelo amigo e colega, Tomas Edson Pereira Guimarães, já falecido. Quando se formou em engenharia ele decidiu conhecer o mundo. Sua primeira parada foi em Paris. Lá chegando, resolveu tomar o café da manhã na Champs-Élysées.
Sem qualquer constrangimento se sentou num dos tradicionais cafés da avenida, tirou o pequeno dicionário português-francês do bolso e começou a gaguejar para o garçom: un croissant…café…beurre…lait (um croissant…café…manteiga…leite).
O atendente observando a dificuldade do brasileiro em aviar o pedido, afastou-se e retornou trazendo um café completo como cortesia da casa. O colega refastelou-se com o brinde surpresa. Ao retornar me contou o ocorrido entusiasmado.
Meu primeiro destino para fora do Brasil foi Paris. Lá tomei o café da manhã no mesmo local escolhido por Tomas, na Champs-Élysées, sem a cortesia. Deletei-me com o sabor inimitável do croissant, porém me faltou coragem para sair com a baguette sem embalagem, debaixo do sovaco, como assim procedem alguns franceses.
A minha curiosidade pela Itália, além da extraordinária epopeia daquela civilização, se firmou em decorrência de filmes com Claudia Cardinale, Sophia Loren e Marcelo Mastroianni. Aguçavam-me as papilas gustativas observar a paixão do italiano por sua tradicional culinária, voltada para as massas.
Na minha primeira viagem àquele país procurei uma trattoria. Sem morrer de amores por macarrão me rendi ante um autêntico Tagliatelle al Ragù, conhecido no resto do mundo como espaguete à bolonhesa. A taça de vinho que acompanhou a refeição estimulou minha predileção pela uva Chianti.
Em Londres, visitei sem empolgação o Palácio de Buckingham, a Abadia de Westminster, o Big Ben, o Hyde Park, a Trafalgar Square e o famoso Museu de Cera Madame Tussauds. Mas, somente me dei por satisfeito quando entrei num public house (casa pública), mais conhecido como pub.
Ali realizei um sonho há muito acalentado de lançar dardos como assistia nos filmes. Aproximei-me do balcão, pedi uma dose de White Horse e perguntei se poderia lançar um dart. O atendente, surpreso, deu-me três peças e me pôs diante do alvo, mostrando como proceder. Lancei os dardos e nenhum atingiu o dartboard.
Para encerrar a aventura sonhada me sentei numa das pequenas mesas do ambiente, no cardápio escolhi o Fish and Chips (peixe empanado com batatas fritas) e continuei me deleitando com outras marcas de uísque. Saí do pub meio de pileque, porém gratificado pelo desejo acalentado.
Viajando com um casal amigo pelo interior de Portugal resolvemos almoçar num restaurante da cidade do Porto à beira do Rio Douro. Enquanto tomávamos vinhos da região, um grupo em mesas ao lado nos fitava com insistência. A certa altura o garçom se achegou e perguntou se eu era parente do técnico Luiz Felipe Scolari.
Por que a pergunta? – exclamei. Respondeu-me o dito apontando para as mesas: O pessoal ao lado o achou parecido com Scolari – na época, o gaúcho treinava a seleção portuguesa de futebol e era festejado pelos bons resultados obtidos à frente do escrete luso. Tirei onda de engraçado e afirmei: Sim. Sou primo legítimo dele!
Percebendo que não os convenci, pedi a conta a saímos de fininho porque os curiosos integravam a Polícia Federal de Portugal. A lembrança daquele momento ficou conectada ao sabor marcante do Polvo à Lagareiro, ali servido.
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil
