MEDOS –
Fizemos uma viagem não planejada para Campina Grande. Saímos com uma mala meio incompleta, o tanque de combustível por um fio, sem ter almoçado.
Paramos num posto no caminho e ganho de Flavinho um pacote de batata frita, um de pipoca e um chocolate. Seria o suficiente. Só precisava pensar…
O céu começa a se tingir logo que passamos pela primeira cidade do interior. Aquela história de pintarmos o céu de azul é fofo, mas ele se tinge de mil cores, do amarelo ao turquesa, do laranja ao vermelho. Tão perfeito e impossível de registrar em fotos ou pinturas…
Vejo um clarão no céu e pergunto se Flavinho também viu. Não! Vejo novamente. Ainda só eu percebo o clarão.
Lembrei da infância. Nas viagens via o céu mudar de cor e tinha medo dos “discos voadores” virem pegar nosso carro. Muitas vezes era só nosso carro por muitos quilômetros. Ninguém perceberia! Alguém sentiria nossa falta? Não sei se tinha medo deles ou de não sentirem nossa ausência… Nunca refleti sobre isso…
Conto isso a Flavinho.
Penso nos meus outros medos.
Uma vez vimos uma cobra atravessando a estrada. Paramos para ela terminar seu caminho. Vimos também uma aranha enorme. Mas nada me causava mais medo que o tal do disco voador me raptando…
Minha vó Malbita contava histórias de almas penadas (acho esse conceito incrível!), de lobisomem e de mula sem cabeça. Crianças assassinadas pela madrasta má que voltavam para assombrar as noites. Curupira, saci, cuca.
Eles vinham nos sonhos ou pesadelos.
Os extraterrestres não apareciam nos sonhos. Só quando acordada pensava neles.
O céu escureceu. As cidades foram passando diante de nossos olhos. Chegamos em Campina Grande.
Esqueci meus medos. Esqueci meus anseios. Tinha outras coisas para pensar.
A gente cresce e pensa que os medos se vão. Doce ilusão. Eles só mudam o formato…
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista , Autora de “O diário de uma gordinha” e Escritora
