A luta do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, para ser reconhecido como um líder regional parece ter chegado ao fim. Depois de reivindicar seus direitos de comandar a presidência do Mercosul – pela regra alfabética de rotatividade, a liderança da vez caberia ao país –, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, os quatro sócios fundadores do bloco, chegaram a um consenso: até 1º de dezembro a presidência será colegiada.
A proposta dos argentinos, encabeçada pela chanceler Susana Malcorra, foi ratificada, na semana passada, pelo brasileiro José Serra e pelo paraguaio Eladio Loizaga, enquanto o uruguaio Rodolfo Nin Novoa preferiu se abster. Os votos bastaram para limitar a força política do caudilho venezuelano, que passou de pedra no sapato a membro isolado do Mercosul.
A decisão dos membros fundadores sela uma nova fase no Mercosul e mostra a força de Argentina e Brasil no bloco. José Serra e Susana Malcorra saem vitoriosos ao acabar com o excesso de jogo político, assunto que predominou no encontro entre os países nos últimos quatro anos. O governo Dilma Rousseff era um dos principais defensores e incentivadores dessa linha de atuação.Muitos especialistas duvidavam da capacidade e credibilidade do bloco e propuseram revisões nos rumos da união. Mas o afastamento da Venezuela mostra que o interesse comum voltou a ser a conquista de acordos comerciais vantajosos para os países-membros.
Além disso, para ganhar protagonismo no cenário de negociações internacionais, a união deve caminhar para acordos bilaterais. A integração com a Aliança do Pacífico, de Peru, Chile e Colômbia, passa a ser estratégica. O clima de impasse político no bloco, que ficou quase 60 dias sem um comando oficial, estava afundando a credibilidade da união. Diversas reuniões “informais” eram convocadas às pressas pelos sócios. A preocupação de uma rápida resolução, porém, se dava justamente para não embargar qualquer decisão referente ao comércio internacional.
Como o responsável por convocar reuniões e por definir as pautas dos encontros é o presidente do bloco, havia muitas dúvidas se Maduro conseguiria atender os interesses comuns. Mergulhado numa crise doméstica sem precedentes em seu país, o sucessor de Hugo Chávez deixou de lado regras básicas do bloco . Esses erros foram o xeque-mate para afastá-lo do Mercosul e destituí-lo do poder.
Os venezuelanos terão quase três meses para se adequar ao Mercosul. Quando assinou, em 2012, a carta para se tornar um membro pleno, o país tinha de adotar uma série de regras impostas pela união, como o acordo de complementação econômica, que propõe uma política comercial comum; o protocolo de proteção dos direitos humanos e o acordo sobre residência. Mas as medidas foram ignoradas por Maduro.
