JOSÉ –

José é o  seu nome. Um garoto que, como eu,  amava a vida. Um José igual a muitos e muitos outros Josés,  que sobrevivem nos bairros pobres da nossa periferia, abaixo da linha da pobreza.

José, seu nome tem sido manchete, ultimamente,  na impressa local e nacional; o seu desaparecimento misterioso e o seu corpo encontrado sem vida provocaram uma comoção sem precedente e de revolta imensurável.

José, você foi brutalmente assassinado quando contava com apenas oito anos. Um anjo, um carinhoso menino-homem, querido na sua aldeia, esperto, ativo, alegre, que já trabalhava para ajudar a sua mãe e os seus oito irmãozinhos.

José, seu desaparecimento e sua morte tão bárbara, tão cheia de mistérios, arrebataram os seus sonhos e feriram gravemente nossos corações.

É triste, José. Você não existe mais, e agora? Sua imagem alegre dançando funk não será mais vista; suas caminhadas  pelas vielas, pelo matagal nas manhãs no seu bairro, muitas vezes sem ter tomado o seu café da manhã (pois não tinha o que comer), ficarão somente na lembrança. Você partiu, não voltará mais. E agora, José?

José, ninguém mais ouvirá a sua voz baixa, sem força, pedindo algo para comer ou para levar para casa. Ninguém mais verá aquela criancinha ativa na parada do semáforo pedindo um auxílio ou levando um lanche para seu irmão que fazia “bico” lavando os vidros dos carros no local.

Evoco a luz do nosso poeta maior, o imortal Carlos Drummond de Andrade, com seu poema musicado, para você, José:

A luz apagou,

o  povo sumiu,

a noite esfriou,

o  dia não veio,

e tudo acabou,

mas você não morre.

Mas você morreu, lhe mataram,  José.

 

 

 

Berilo de Castro – Médico e Escritor,  [email protected]

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