IDEIAS EM TRÂNSITO –
Meu juízo hoje está assim… Num emaranhado só. Cheio de vias de mãos duplas, túneis, viadutos, cruzamentos e rotatórias. Todas as vias numa só. A alternativa é apontar o lápis, delinear as ideias, organizar o pensamento e deixar o tráfego fluir para o papel, sem ultrapassagens perigosas, sem excesso de velocidade e sem invasão do passeio público.
Tenho que lembrar em estacionar apenas em locais permitidos, prestar atenção às placas de sinalização e seguir em frente, com segurança, para não andar na contramão, além de não ultrapassar as velocidades limites de cada via.
Nas estradas de barro e de chão pisado, e nos caminhos não pavimentados invisíveis e desconhecidos, máxima de 60km/h; nas ruas, máxima de 80 – se for via de trânsito rápido, senão, com toda a confusão urbana, o jeito é reduzir a ansiedade e contentar-me com os 70km na Leste-Oeste dos meus desejos e vontades.
Por fim, quando pegar a estrada dos meus devaneios, tomarei cuidado para não ultrapassar os 110km, mesmo quando a adrenalina a mil e a vontade de viver perigosamente, pesarem sobre o meu pé direito, acelerando as emoções e os impulsos.
Debrear, acautelar e defender-se dos imprevistos é sempre regra de segurança para condutores, tal qual o mesmo procedimento defendido na cartilha da direção defensiva: “Todo acidente pode ser evitado ou, pelo menos, amenizado. Basta ter atenção por onde se trafega”.
Refinando o pensar
A fome aguçada pelas descobertas atiça o degustar do pensar, apura o paladar e sofistica as ideias, ao passo que saboreia as iguarias raras de um ser pensante. Provando e provocando sabores e gostos. Assanhando vontades. Desarmando-se e desfalecendo-se ao saborear pratos do conhecimento. Exaltando-se pelas sensações de prazer do petiscar das concepções, dos entendimentos.
Saciando sedes nos sucos da alma, nos líquidos que correm pelos filamentos e abastecem a mente; que impulsionam; interrogam e descobrem o pulsar. Faminto, ávido pela sagacidade, debruça-se sobre a mesa farta, elegante e refinada. Lambuza-se com o mel da sabedoria, embriaga-se com o vinho da prudência; farta-se com as carnes do intelecto e deleita-se com o manjar dos deuses da argúcia do postular.
Sacia-se e, por instantes, a fome adormece. Dará trégua até o próximo banquete, apetecido pelos acepipes das perceptibilidades, acompanhantes do prato principal: o pensar.
Flávia Arruda – Pedagoga e escritora
