HOMENS – 

Perdi a conta das vezes que aquela cabecinha branca me acolheu com um sorriso e um abraço. Sempre na noite, sempre com música. Bira era referência para quem gostava das letras, da música, da arte em geral, da boemia. Era referência para quem gostava da vida. Soube viver, sempre rodeado de gente, sempre nos fazendo feliz.

Generoso, antenado, criou o Clambom-Clube dos Amantes da Boa Música, para que houvesse motivo para a música tocar, para juntar os amigos. Bira me ajudou a aprender a gostar muito de viver. Chegou ao céu aos 99 anos, foi na frente preparar a chegada de João Gilberto e Sinedino. Era festeiro, foi preparar a festa. Obrigado por tudo!

Um dia, Sinedino me chamou no velho escritório da rádio Poti. Estava chateado. Havia nos dado a primeira FM de Natal, mas estava recebendo reclamações demais. E me apontou o telefone por onde chegavam até desaforos! Queria que eu assumisse a direção artística da Reis Magos (hoje 96 FM), cuidasse da programação, que nos chegava gravada, de uma rádio do Recife. Eu aceitei o convite e, à queima-roupa, ele me perguntou: “E qual é o seu objetivo?”. Eu respondi no mesmo tom: “Que essa porra desse telefone fique mudo!”. Ele abriu um largo sorriso e eu tive um dos meus melhores momentos profissionais.

Alguns meses depois, me disse recompensado e reconhecido: “A porra daquele telefone tem tocado muitas vezes, sempre com elogios. Obrigado, garoto!”. Esse era mestre Sinedino, que chegou no céu aos 90 anos, dividindo o transporte com ninguém menos que João Gilberto! E foi logo procurando por Bira. Sempre soube das coisas. Obrigado por tudo!

 

Heraldo Palmeira – Produtor Cultural

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