Na história do cinema já existiram clássicos adorados pelo público, mas que esbarraram num certo mau humor da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que vota os eleitos pelo Oscar. Com 10 indicações, O Exorcista, por exemplo, venceu apenas dois prêmios; A cor púrpura (de Steven Spielberg), com 11 indicações, saiu da festa de mãos vazias, num caso parecido com o de Chinatown, que faturou mísera estatueta. São casos incomuns, numa trajetória de 88 anos de cerimônia, que, antes de ser nonagenária, tem mostrado uma vontade de modernização (até por pressão de público). Daí, 2017 sacramentar parte destes novos ares, com dois virtuais premiados: La la land — Cantando estações (vencedor do Globo de Ouro, da Associação dos Produtores da América, do Bafta e mais 17 troféus de peso) e Moonlight: sob a luz do luar (premiado no Globo de Ouro e pela Sociedade Nacional dos Críticos de Los Angeles). O primeiro, um musical (com recorde de 14 indicações), comandado por Damien Chazzele; e o outro, um exemplo de fita arriscada e independente, mesclando questões raciais e dados de sexualidade diversa para um empático protagonista negro. O destino das duas fitas, ao lado das outras sete selecionadas para o posto de melhor filme (e demais 23 categorias), será decidido por um corpo de jurados que chega à casa dos 6,7 mil.

Hoje à noite, o evento no Dolby Theatre, com 3,3 mil assentos, terá Jimmy Kimmel como anfitrião de cerimônia. Nela, desfilarão temas candentes embutidos em filmes concorrentes à categoria central como Estrelas além do tempo (com racismo e sexismo em pauta), A qualquer custo (onde desponta a bancarrota financeira e a caipirice de parte dos EUA) e Até o último homem (exemplar na construção de um mito da Segunda Guerra, capaz de reerguer o crédito do diretor Mel Gibson). Igualmente indicado na categoria de melhor direção, o canadense Denis Villeneuve comanda a ficção científica com A chegada, outro concorrente a melhor filme. Com a soma de 16 indicações, o trio de filmes Manchester à beira-mar, Lion — Uma jornada para casa e Um limite entre nós, todos concorrentes na categoria central, alinha tramas ligadas à paternidade (ou à ausência dela). Pais rigorosos, homens frustrados ou arrimos de família involuntários estão entre os retratos pinçados, nesses filmes, para o Oscar de melhor ator (na maior das disputas, que contrapõe Casey, Affleck e Denzel Washington). Já Lion é daqueles dramas reais, apoiado em ambientes de culturas diversas, acirrando a faceta globalizada do Oscar, que, aliás, este ano está demarcada com a francesa Isabelle Huppert (de Elle) ameaçando o esperado Oscar de melhor atriz para Emma Stone (de La la land).

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