HABILIDADE DA ESQUERDA OU INCOMPETÊNCIA DA DIREITA? –
Uma pergunta necessária em tempos de acirramento político
O momento atual é marcado por um ambiente de intensos debates, mas nem sempre de ideias. A política brasileira, em vez de se firmar como espaço de diálogo e construção de consensos em prol da sociedade democrática e justa, tem se tornado palco de embates polarizados, onde cada lado defende sua bandeira sem disposição real para compreender o outro.
Vivemos um tempo em que o país parece se resumir a dois rótulos: direita e esquerda. Essa divisão, contudo, não consegue responder à complexidade dos problemas nacionais. O Brasil é maior do que esses polos e precisa reencontrar um nome novo: Brasil. Um nome que una, em vez de dividir; que represente não apenas um lado do espectro ideológico, mas a pluralidade de um povo que anseia por soluções reais.
Nesse cenário, surge uma indagação provocativa: estamos diante da habilidade estratégica da esquerda em pautar o debate, ou da incompetência da direita em construir alternativas sólidas? Ou, talvez, vice-versa?
O Papel da Esquerda
A esquerda, historicamente, se apresenta como defensora de pautas sociais, de inclusão e de igualdade. Sua força está na capacidade de mobilizar narrativas que tocam diretamente os sentimentos de justiça e de direitos fundamentais. Muitos enxergam aqui a habilidade de compreender o sofrimento coletivo e transformar isso em discurso político.
Por outro lado, seus críticos apontam que essa habilidade, por vezes, se transforma em retórica desconectada da viabilidade econômica, gerando promessas que não encontram sustentação prática. Daí a acusação recorrente de populismo.
O Papel da Direita
A direita, em contrapartida, tende a valorizar eficiência, responsabilidade fiscal e liberdade individual. Seu potencial está na defesa de modelos mais enxutos de Estado e na aposta em setores produtivos como motores do desenvolvimento.
Entretanto, quando incapaz de traduzir esse discurso em políticas concretas que atendam às demandas sociais mais urgentes, sua imagem pública se fragiliza. Daí surge a percepção de incompetência ou de insensibilidade com os mais vulneráveis. Além disso, a desorganização interna e a ausência de consensos sobre uma liderança clara contribuem para sua perda de espaço.
O Brasil no Meio do Caminho
O verdadeiro impasse talvez não esteja apenas na habilidade de um ou na incompetência do outro, mas no cansaço da população com esse duelo interminável. O povo quer soluções, não bandeiras. Quer resultados, não discursos. O Brasil clama por um projeto que seja Brasil acima de tudo — não como slogan, mas como essência, como construção de um futuro que respeite nossa diversidade e supere a lógica da guerra ideológica.
A Falta de Pontes
O problema maior é a falta de pontes. A política perde seu caráter de espaço público e vira campo de batalha de narrativas absolutas. Esquerda e direita deixam de se ver como complementares em suas diferenças e passam a se considerar inimigas irreconciliáveis. Nesse ambiente, a democracia enfraquece, porque não há espaço para convergência, apenas para confronto.
Uma Pergunta, Não Uma Resposta
Mais do que definir quem tem razão, a reflexão propõe uma pergunta: será que estamos assistindo à habilidade estratégica de um lado, ou à incompetência do outro? Ou será que o verdadeiro problema é a incapacidade mútua de construir um projeto de país que vá além das bandeiras ideológicas?
O Brasil precisa se reencontrar consigo mesmo. Precisa deixar de ser apenas “direita” ou “esquerda” e voltar a ser Brasil. Um país que, apesar de suas diferenças, saiba dialogar, criar consensos e construir um caminho em direção a uma sociedade verdadeiramente justa, democrática e mais humana.
Raimundo Mendes Alves – Advogado e vereador
