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GRANJA NUNCA MAIS –

Como todo aquele que na infância desfrutou de uma boa moradia em casa grande, com um gostoso sítio, um bom quintal, contato direto com a natureza, sonhava (hoje não mais) em voltar a usufruir de tamanha regalia; momento que é despertado na idade adulta, quando as coisas melhoram financeiramente; unir o útil ao agradável, como objetivo e desejo maior.

Foi com esse pensamento e com esse sonho, imaginando voltar aos bons tempos da minha infância liberta e despretensiosa, que adquiri uma área de granja.

Comprei uma quadra de terra em um loteamento bem na divisa dos municípios de Parnamirim e Macaíba; época boa, em que não havia crimes nem roubos nas regiões; hoje local de um verdadeiro matadouro humano e de roubos e furtos diários.

Incentivado pelo morador, comecei a investir na pequena propriedade: construção de casas, poço tubular, instalação elétrica, cercas com estacas de cimento armado, enfim, a transformação daquela quadra de terra em uma verdadeira estação de repouso e lazer; o que, na verdade, era tudo de bom e de agradável.

Comecei a plantar de tudo um pouco; muito feijão verde, jerimum, melancia, batata, macaxeira; fruteiras as mais diversas e selecionadas; uma divertida horta familiar, variadíssima; a empolgação era tamanha que tomou conta de toda família. Passei a criar galinha, pato, guiné; alimentar os passarinhos soltos em troca dos seus cantos. Achando pouco e novamente incentivado pelo caseiro, resolvi criar galetos; construí um bom e grande aviário e haja empolgação.

Comprei uma carroça com um bom animal, pra ajudar na condução dos filhos do morador para a escola e, também, fazer algumas outras serventias para a granja.

Consegui organizar um modelo de plantação de tomateiros de causar admiração a todos aqueles que transitavam na região, não deixando nada a desejar com relação às mais organizadas plantações de outras localidades.

A criação de galetos ia de vento em popa; crescimento assustador e sem perdas.
No entanto, não durariam muito aqueles bons momentos de prazer e de alegria; o sonho começara a desmoronar; a casa começou a cair;  os mais belos tomates colhidos eram levados de carroça para a feira livre de São José de Mipibu, onde eram vendidos bem ligeirinhos  ( por um bom preço). Dinheiro? Nem de longe! Nem pensar!

Os galetos começaram a diminuir; todos os dias morriam galetos.
Indagado sobre o acontecimento, respondeu o morador:

– “Doutor, os galetos estão bonzinhos, quando menos se espera eles caem durinhos, acho que é o coração que para”.

Procurando uma melhor e mais aceitável explicação, fiz uma fiscalização no aviário e constatei alguns galetos amarrados; estranho, não? Por quê? Resposta:

– “Estão em observação pra ver se realmente morrem do coração”!

Aqueles eram com certeza os galetos mais gordinhos, previamente escolhidos para cair “molinhos” e bem temperados nas panelas nos dias seguintes e serem deliciosamente devorados, com os corações bem sarados e  torradinhos, para deleite apetitoso dos meninos ( que eram muitos) do caseiro.

Assim sendo, com o mesmo entusiasmo e mais feliz ainda quando do momento da compra, me desfiz da  tão sonhada granja, meu sonho de criança, minha vida no campo, meu rico contato com a natureza. Voltei a ocupar contrariado os meus fins de semana no fechado espaço aéreo na selva de pedra da cidade grande.

Granja, nunca mais! Só se for como convidado e muito bem protegido.

Berilo de CastroMédico e escritor

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