João Batista Soares de Lima
Sinto que precisamos entender um pouco melhor essa questão do desapego. Porque muitos podem pensar que ser desapegado às coisas materiais é ser negligente, descuidado, não trabalhar – desprezar mesmo tudo que é material, as coisas deste mundo, por assim dizer. E não é bem isto! Devemos ser diligentes e instrumentos de Deus em tudo o que fizermos!
O que Deus quer é que não nos aprisionemos à matéria; que saibamos que somos Espírito, Vida. E, assim, devemos viver – ou em um corpo ou fora dele – conscientes dessa verdade: somos Espírito, Vida, ainda que atualmente manifestando corpos; e esses corpos, desejos.
A Bíblia não nos ensina a desprezar a matéria, antes diz que o nosso corpo é templo do Espírito. Por isto devemos cuidar bem dele (corpo); não esquecendo, todavia, que somos Espírito.
Jesus nos ensinou a “Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça e tudo vos será acrescentado” (Mateus 6:33). Mais uma vez, percebe-se a prioridade que devemos dar em nossa vida. Primeiro as coisas espirituais! O que não significa desprezar às demais! É bem certo que chegaremos à compreensão perfeita desse ensinamento do Mestre, quando nada nos aprisionará na matéria, ainda que estejamos vivendo nesta dimensão.
Alguém já disse que, satisfeitas todas às necessidades do corpo físico, nada mais se teria a buscar. Mas esse pensamento foi ultrapassado há muito! Hoje buscamos a satisfação do nosso Eu verdadeiro, da nossa alma imortal, embora tenhamos que alimentar o corpo enquanto existirmos nessa dimensão!
Quando o moço rico perguntou a Jesus o que deveria fazer para ganhar a vida eterna, Jesus respondeu que ele deveria observar o que dizem as Escrituras. Aquele moço respondera que isto ele já cumpria desde a adolescência; ao que Jesus respondeu: “Falta-lhe uma coisa. Venda tudo o que você possui e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos céus. Depois venha e siga-me”. (Luca 18:18-22). Às vezes, a nossa atenção se fixa apenas na atitude do moço (que ficou triste com a proposta de Jesus, porque era muito rico). Mas existem outras lições a extrairmos dessa passagem bíblica. Primeiro, Jesus não mandou destruir os bens, mas fazer melhor uso deles (não acumular desnecessariamente, mas repartir com os mais necessitados). Segundo, o moço era, por assim dizer, um cumpridor tradicional dos preceitos bíblicos, mas ainda era preso, apegado demais aos bens materiais (daí sua decepção com a resposta de Jesus).
Então, como devemos agir?
Na verdade, tem gente que usa e abusa das coisas que Deus coloca à sua disposição; esses precisam buscar mais o reino dos céus. Outros renunciam radicalmente às coisas materiais, separando-se delas como se elas fossem pecaminosas; buscam de uma maneira equivocada a perfeição espiritual pelo caminho da pura e simples renúncia material – é um outro extremo. E alguns, como Jesus, totalmente liberto do mundo material, convivia com todos, ricos e pobres, ensinando-lhes que o Seu reino – como também o nosso – não é desde mundo. Todavia, enquanto aqui estivermos, devemos fazer bom uso do tudo aquilo que Deus põe à nossa disposição. A renúncia, portanto, opera-se dentre de cada um, é a consciência de que os bens materiais só servem para o sustento corpo, e que a forma ou sentimento com que você interage com ela (a matéria) vai fazer você se libertar das dimensões inferiores, ou se aprisionar ainda mais à elas.
É possível, portanto, ter e não ser apegado; da mesma forma, é possível não ter e ser apegado ao pouco ou quase nada que tem! Em outras palavras: é possível viver neste mundo como se vivesse no céu, ou viver neste mundo como se vivesse nas trevas!
O homem realizado espiritualmente é pobre materialmente falando, mesmo que eventualmente as possua, por conceber o ser verdadeiro que É. Como Jesus disse: “Bem-aventurados os pobres pelo Espírito, pois deles é o Reino dos céus”. (Mateus 5:3).
João Batista Soares de Lima – Ex-secretario de Tributação do RN e membro do Movimento Cristão
