Um dos mais inteligentes e famosos boêmios potiguares, JOSÉ AREIA, (1900-1972) viveu na época da Segunda Guerra Mundial, e marcou época em Natal, não apenas pela vida de boêmio, como pelo arsenal de respostas malcriadas, que trazia na ponta da língua, pronto para se defender dos desafetos ou simples cidadãos anônimos, que, por acaso o incomodassem.
– Entre aqui no café. Vou lhe mostrar o maior corno do mundo!
E em frente ao espelho, disse:
– Veja ali! É aquele que está junto de mim!!!
Era o próprio professor.
Amigo de juventude do natalense João Café Filho, qual não foi a sua alegria ao ver o amigo chegar à Presidência da República. Viajou para o Rio, na esperança de conseguir um bom emprego, conforme o amigo lhe havia prometido.
Ao chegar ao Palácio, foi atendido por um secretário, que não permitiu sua entrada, e ainda lhe transmitiu o recado de que o emprego disponível no momento era o de seringueiro na Amazônia.
Indignado, José Areia teria disparado, no ato:
– Meu amigo, você diga pra Café Filho que quem veio aqui foi o amigo dele, Zé Areia, atrás do emprego que ele lhe prometeu, quando subisse na vida. Diga também, que ele se lembre de que, no Rio Grande do Norte, quem tira leite de pau é “bu…….!” Um emprego desse, eu não quero!!!
Certa tarde, melancólico num botequim, José Areia contava sua desdita. Fora casado, tivera lar, esposa e filhos, mas a mulher não aguentara sua vida boêmia e as incertezas dos dias sem ter o que comer com os filhos. Certa madrugada, ao voltar para casa, não encontrou nem mulher, nem filhos, nem móveis. E José Areia confessou que ficou louco de aperreio, não por ela, mas pela saudade dos filhos.
Terminou localizando a nova moradia da ex-mulher. Agora, tida e mantida pelo Coronel Teodósio, conhecido chefe político, poderoso e rico, .
Cheio de alegria, Zé Areia foi à procura dos filhos. Estava brincando com eles, quando salta dum cavalo o tal coronel Teodósio, rebenque na mão e falando grosso:
– Boa tarde, seu Areia!
Assustado, contava José Areia que só fez desengalhar o chapeu da galhada de chifres e respondeu, educadamente:
– Boa tarde, coronel Teodósio, Deus guarde Vossa Senhoria e suas excelentíssimas famílias!
E foi embora assustado, deixando a mulher em paz.
Violante Pimentel – Escritora
