EU VI! –
Quando eu tinha uns treze para quinze anos (acho que era isso), fazia um sucesso ENORME a tal da lambada. Conjuntos musicais pipocaram pelo país, assim como um “estilo de vida”: saias rodadas, cabelos compridos, homens com calças folgadas e algum cinto de tecido colorido. Sei que hoje, falando deste gosto peculiar, parece abominável. Mas, na época era a moda e quase todos curtíamos isso.
Eu até tive um professor particular de lambada. Hoje soube que ele é um pastor renomado e deixou a vida de dançarino para trás. Quando lembro disso me divirto muito. Ganhamos alguns concursos de dança e eu me sentia a própria Emília, a boneca de pano, sendo jogada para cima e para baixo como se não tivesse osso algum.
Naquela época, onde Beto Barbosa, Kaoma e Luiz Caldas faziam sucesso, algo estranho surgiu na sociedade natalense. O REI DA LAMBADA. Ele não era um cantor, mas sim um dançarino que enfeitiçava as mulheres. Nos shows ou festas aparecia um homem com chapéu preto, camisa de botão branca, calça preta e chamava as mulheres para dançar. Ele, diziam, dançava muito bem. Mas, quando olhavam para baixo, percebiam que os pés dele não encostavam no chão. E um rabo dava a sensação que sairia da calça a qualquer momento. E, para completar, seu chapéu encobria um par de chifres.
Pronto! A dança virou pecado e todas, que antes queriam dançar com ele, ficavam com medo de serem a próxima vítima. Sim, as mulheres sumiam depois de dançar com ele.
S U M I A M!!!
Não lembro de jornais relatando sumiços de mulheres em shows, mas a fofoca corria de boca-em-boca e quem iria desmentir?
Bem, semana passada, andando num shopping da cidade em busca de um presente de aniversário, vejo um homem. De chapéu preto, calça preta e camisa de botão branca. Ele era a fiel cópia do que diziam ser o Rei da Lambada. Na hora que passou, virei para meu esposo e disse: olha o REI!
Ele também lembrava desta lenda urbana e concordou comigo. Mesmo sem nunca ter visto o rei, nossa imaginação o transformou naquele que causou tanto temor na nossa adolescência.
Queria ter chegado perto e cantar só para ele ouvir: “dançando lambada êêê, dançando lambada ááá´”, mas fiquei com medo.
Podia ser presa por assédio ou sumir com um homem de chifres e rabo. Não sei qual seria a melhor opção.
De qualquer forma, quando cheguei em casa fui escutar Beto Barbosa e senti saudade de um tempo leve, sem grandes preocupações além de dançar no ritmo certo…
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, autora de “O diário de uma gordinha” e escritora
