ERA UMA VEZ UMA TRIBO –
Viviam em uma terra que moldava o ritmo das suas rezas, das suas colheitas, do seu idioma.
O tempo era contado pelas estações, o céu servia de calendário,
e a língua nascia do mesmo pó que os pés pisavam.
Essa tribo criou histórias, leis e canções.
Tudo vinha da terra e à terra tudo voltava.
Porque a terra não era apenas chão: era corpo, alma e memória.
Vieram impérios, invasões, expulsões.
Mas mesmo espalhados pelos quatro cantos,
eles nunca deixaram de se orientar para o mesmo sol,
nem de sussurrar a mesma prece:
“No próximo ano, em Jerusalém.”
E quando o mundo achou que era tarde demais,
eles voltaram.
Essa é a história do povo judeu.
Mas poderia ser a história de qualquer povo que nasceu de uma terra
e nunca deixou de ouvi-la chamando.
Dos povos da Amazônia aos navajos, dos maoris aos judeus, todos sabem o que significa perder a terra e, com ela, perder um pedaço de si.
Israel é o exemplo mais improvável e mais extraordinário: o único caso na história em que um povo antigo conseguiu voltar à sua terra ancestral.
E por isso, quando dizem que “tudo começou em 1948”, é como se dissessem que a história de um povo começa quando alguém decide reconhecê-la.
Mas a história verdadeira começa muito antes, quando um povo aprende a chamar uma terra de lar, e se recusa a esquecê-la, mesmo depois de milênios de distância.
O único povo que voltou pra casa
e foi chamado de invasor.
Mas não existe colonizar a própria terra.
O povo judeu se recusou a desaparecer,
e transformou o exílio em promessa
e a promessa em realidade.
Um povo que sobreviveu ao impossível
e fez florescer, no mesmo solo onde foi queimado,
a prova viva de que a memória é mais forte que o esquecimento.
Há terras que esquecem seus povos.
E há povos que esquecem suas terras.
Mas há também um povo que nunca esqueceu.
Podem rasgar livros, distorcer datas,
escolher o ponto de partida que lhes convém.
Mas uma verdade permanece inquebrável:
a conexão viva entre um povo e a terra que lhe deu nome, língua e destino.
O vínculo entre o povo judeu e a terra de Israel
não é político, nem moderno, é biográfico, existencial.
Está no DNA da sua língua, no calendário das suas festas, na direção das suas orações.
É a única história em que o exílio terminou com o retorno.
A única em que um povo antigo voltou a falar sua língua, cultivar sua terra e reconstruir sua casa no mesmo solo de onde partiu.
Porque Israel não é um projeto — é um retorno.
Não é conquista — é continuidade.
Não é colônia — é origem.
E o que liga o povo judeu à terra de Israel
não é apenas história.
Cada pedra guarda o eco de uma promessa.
Cada vento carrega o som de um nome antigo.
E cada geração ouviu o chamado dessa terra
e respondeu com pertencimento.
O resto é política….. o vínculo é eterno.
Mário Roberto Melo – Correspondente do Blog Ponto de Vista, em Tel Aviv, Israel
